domingo, 28 de novembro de 2010

Episódio I: O nascimento

Instantes depois dos primeiros sinais a gestante é conduzida ao hospital e recebida com cuidados especiais, a atenção naquela hora deveria ser recobrada, exames confirmavam o nascimento de uma criança do sexo masculino. A maca passava entre os corredores guiada por outros cinco enfermeiros. A preocupação a respeito de sua sobrevivência era recobrada pela atenção. Chovia muito e a expectativa era intensa, muitos enfermeiros se dispunham a operação de parto. Raios extensos e trovões estrondosos eram constantes e às vezes impossibilitavam a comunicação entre os enfermeiros finalmente após muito trabalho os médicos conseguiram concluir a operação com êxito.

A criança foi mantida sob o sistema de uma incubadora por um longo tempo um outro fator ainda preocupava os médicos, a alta incidência de raios que surgia simultaneamente por aquela região. Era noite, a chuva havia cessado ainda pela manhã assim como os relâmpagos. Durante todo o período de assistência o tempo ameaçava uma nova chuva. Quando pela noite alguns relâmpagos retornaram em locais aproximados, em pouco tempo um primeiro raio atingiu as torres de eletricidades provocando um blecaute em todas as partes. O sistema automático dos geradores hospitalares possibilitou a continuidade do parto com luz normal. Aos poucos as luzes circunvizinhas foram voltando, um dos assistentes permanecia apreensivo pela janela.

Ainda por aquela hora ocorre novamente um blecaute atingido os geradores do prédio que comprometeria o estado físico da criança, caso não fosse o sistema automático da própria incubadora de reativação dos controles de temperatura e sondagem.

Os computadores no mesmo instante do raio foram desligados, mas em frações de segundos, todos voltaram a funcionar, como no primeiro caso. Porém agora, algo intrigava o médico responsável pela conexão dos cabos via computador. A presença de pequenos vestígios de partículas substituía devagar as substâncias já adicionadas ao corpo pela sondagem, e isto pode ser notado devido a tecnologia de acompanhamento da sondagem monitorada pelo computador, distinguido-se então as partículas por cores.

Embora a reativação dos demais aparelhos fosse instantaneamente automática, a ativação da incubadora por outro lado, deveria ser feita por partes. Elementos tais como a sonda, controle de temperatura e gases puderam ser reativados normalmente, porém a válvula giradora responsável pelo filtro de ar, termômetro, e guarnições não foram. Assim iniciou-se um pequeno acúmulo de ar na cúpula.

No momento exato em que o médico analisava o histórico do processo de ativação que constava falhas de ligamento nestes três outros elementos, ocorreu então um outro acidente. O fusível do gerador não suportou por muito tempo e foi danificado devido a incidência do blecaute, portanto, apagou-se as luzes. Um dos enfermeiros, assustado, notou pequenas eletricidades em movimentos na incubadora em meio a escuridão, mas preferiu não comentar nada, pensou que fosse cabos eletrizados soltos, outro tentava se apoiar em algum objeto, e mais tarde avisava aos demais a ausência de choro. Após alguns segundos rápidos, voltaram-se as luzes dando visibilidade ao botão de abertura da cúpula em casos de emergência, antes de tocá-lo muitos acreditaram ser o fim, mas com a abertura automática da capa envidraçada se desfez a nuvem pela saída dos gases. Observaram-nas atentos para conferir seu batimento cardíaco, e por causa do choque elétrico, a criança teve apenas um distúrbio adormecendo-se. O médico cancelou a operação, porém, as partículas desconhecidas vistas pela imagem fictícia da criança exibida no monitor, já haviam ocupado todo o antebraço, desde as mãos onde fora aplicado a sondagem, até o cotovelo. Uma nova operação foi reiniciada, porém estas partículas agora eram atraídas gradativamente para a região óssea, dificultando ainda mais sua visibilidade, sendo cobertas pelo soro neutro.

Após a retirada de todos os enfermeiros que auxiliavam a operação, permaneceu-se somente o médico responsável. Inquieto tentava diagnosticar a origem dos vestígios que agora eram absorvidos para a região óssea. Depois da coleta do sangue não foi descoberto senão o aumento da hemoglobina devido a dilatação do endotélio. Dias mais tarde o médico teve a resposta para sua indagação, um só composto químico seria responsável por este fenômeno, o óxido nítrico, por ser um dos principais causadores da dilatação do endotélio que aumenta o fluxo sanguíneo. Então, para descobrir os vestígios seria necessário saber a composição química do óxido nítrico. Alguns estudos foram realizados, soube-se que as altas temperaturas ambientais, o nitrogênio molecular e o oxigênio poderiam se combinar para formar o óxido nítrico. Porém a maior produção natural é produzida pelo relâmpago. Assim ficou fácil deduzir que pelo relâmpago, ao atingir alguns dos equipamentos, inclusive a incubadora, originou-se o óxido nítrico no soro injetado na criança. A pergunta sobre como este composto poderia ter interagido com o soro líquido era constante, o médico manteve-se em sigilo, exceto, encomendou um físico para dizer algumas evidências.

Com a visita do físico as coisas se esclareceram mais, soube-se então que não era seguro o método utilizado para a sondagem do soro. O líquido era mantido em um depósito metálico ao invés dos tradicionais plásticos descartáveis, embora fosse muito útil para economizar, neste caso foi o principal culpado pela difusão do óxido nítrico com o soro. Por ser um bom condutor de eletricidade, o metal conseguiu guiar a energia oxidada ao depósito metálico. O físico disse sobre o fenômeno que produz o óxido nítrico, disse-lhe que enquanto os choques das partículas dentro da nuvem em uma chuva se intensificam, a quantidade de carga em sua superfície aumenta e, conseqüentemente, o campo elétrico criado por essas cargas também se eleva. Com o aumento da intensidade desse campo, as moléculas de ar entre as partes eletrizadas sofrem polarização e se orientam de acordo com o campo elétrico. O efeito de polarização se intensifica com o aumento da intensidade do campo, até o ponto em que elétrons são arrancados das moléculas do ar.

_O campo magnético, dessa forma ionizado, se transforma em um condutor gasoso. Este campo tem um certo limite, porém, com o óxido nítrico ionizado, foi possível os raios elétricos atingirem a terra em longa distância, formando um caminho chamado de canal condutor. Genericamente, o valor de campo elétrico que provoca ionização em um meio é denominado rigidez dielétrica desse meio. A respeito da rigidez dielétrica no ar, - disse-lhe o físico ao mostrar um exemplar entre seus documentos - ela varia com as condições da atmosfera. Isto é, quando o campo elétrico ultrapassa esse valor limite, diz-se que houve uma quebra da rigidez dielétrica do meio. Isso transforma um íon isolante em um condutor. Este fenômeno além de ter sido o responsável pela formação do canal condutor que conduziu o relâmpago até atingirem os equipamentos, foi também o responsável pela formação do óxido nítrico presente na atmosfera. Na verdade doutor, - acrescentou o físico - os relâmpagos apenas são capazes de eletrizar objetos bons condutores colocados em seu campo elétrico, como evidentemente aconteceu com o metal da incubadora.

Ambos se despediram, mas ainda algo parecia incompleto para o médico. Depois de algumas comparações com o demonstrativo do físico, o médico conseguiu chegar a uma conclusão sensata, ou seja, a difusão do óxido nítrico ocorreu pela oxidação que é a perca de elétrons da substância do soro pela influencia do raio, como a polarização das moléculas no campo elétrico. Deste modo o gás conseguiu infiltração pelos vasos sanguíneos. A ligação iônica das moléculas ocasionou maior influência de prótons no organismo. Mas se não fosse a sua alta solubilidade, jamais poderia atuar nas células das veias sanguíneas e tampouco nas veias nervosas. Por ser um gás muito solúvel nos músculos, conseguiu absorção do corpo e mais tarde se difundiu com os ossos, isto pode ser provado após o exame de raio-x feito pelo médico. Em comparação ao raio-X do braço esquerdo, havia uma camada iônica difundida com os ossos, desde as mãos e em todo o ante-braço. A explicação do caso estava na reação orgânica, pois um organismo de uma criança pré-matura necessita de cálcio na corrente sanguínea devido o mal funcionamento da circulação, porém irá repor a falta retirando o cálcio dos ossos, o fenômeno ocasionou a ligação entre o óxido, que age de modo veloz, e os ossos. A grande presença de magnésio nos ossos sintetizou-se com o óxido, formando então esta camada iônica. Um conector permitiu que os íons passassem diretamente do citoplasma de uma célula para o de outra. Neste caso ocorreu uma ligação elétrica, a passagem do impulso nervoso nessa região é feita por substâncias químicas neurotransmissores. Assim também por ser um gás neurotransmissor nas células nervosas, o óxido conseguiu absorção do nervo ótico afetando a retina.

A adoção

Com a retina afetada ocorreu-se uma polimerização do aminoácido tirosina por intermédio da ação tirosinase, a qual passa de aminoácido incolor a um pigmento castanho negro, chamado eumelanina. Esta reação química resultou-se na pigmentação escura de toda a esclera ocular, a córnea. Além disto a radiação ionizante causada pelo óxido, obrigou o licopeno, que tem por função de impedir a oxidação das substâncias químicas que ocorrem nas reações metabólicas, de atuar na reparação das células, assim predominou-se a cor vermelho na íris do olho. Estas reações foram melhor explicadas após a abertura dos olhos da criança que assustou a todos, para isto foi preciso a contratação de um biólogo para dar as devidas explicações, porém a notícia não se expandiu. Todos os médicos guardaram em sigilo o fato, a criança foi abandonada após três meses de parto. A mãe não conseguia aceitar o fato, jamais foi encontrada novamente, muitos acreditavam que ela tentou suicídio, mas a razão mais aceitável foi a migração para o sul do país, onde habitavam os seus descendentes. A criança foi mantida em um internato de crianças órfãs após um ano de idade sob a custódia do hospital, e após três anos finalmente ela foi adotada, por Jane LeBeau (mãe adotiva). Posteriormente viverá com seu tio Luck LeBeau (pai adotivo).

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