sexta-feira, 10 de março de 2023

(3ª edição) A Série X-Club apresenta: Medal Silver - O Retorno à Ilha Perdida

 




 

ODENKIR KHOLER

 

 

  


MEDAL SILVER

 

  

O REOTRNO À ILHA PERDIDA 


DELARTES

 

 

 

 

 

 

 


3 PARTE: MEDAL SILVER – O RETORNO À ILHA PERDIDA

 

 

POR: GUILHERME PALHARES

 

 

 

 

Ilustração

João Carlos

 

 

  

Dados Internacionais de Catalogação (CIP)

 


Catalagação SP - 2010

Copyright©

Edição Arch

Bibliografia.

ISBN 65-9898-8988

 

Editor: Edward Rhozter

Patrocíio: William Ratsbone

Tradução: Samir Blast

Revisão: Dyman Throika

Ilustração: Amanda Kitchener

 

Introução e seleção Sylvie&Debs

Patativa Pinheiro

01-564-800

                                    CDD-023

Índices para catálogo sistemáticos

I Crime – 0350

II Aventura – 0390

 

Editora® Delartes 1985

Maps World Diagramation

 

  

ÍNDICE

 

 

INTRODUÇÃO.................................................................. 5

O MERCADO.................................................................... 6

A ENTREGA.................................................................. 10

ATAQUE SURPRESA.................................................... 16

UM NOVO DESAFIO.................................................... 20

O PLANO....................................................................... 24

A REUNIÃO.................................................................. 34

O RETORNO À ILHA................................................. 46

O POUSO....................................................................... 54

A ROCHA CENTRAL.................................................... 57

A DETONAÇÃO.............................................................. 62

O SALÃO DAS PÉROLAS.......................................... 65

A DUPLA SE SEPARA............................................... 69

A TRIBO....................................................................... 74

UM ATO ERÓICO......................................................... 79

SEM SAÍDA.................................................................. 82

O LAGO SECRETO...................................................... 85


A DISPUTA.................................................................. 91

NO AEROPORTO......................................................... 101

A MEDALHA DE PRATA........................................... 108

 

 

 

INTRODUÇÃO

 Prepare-se para se aventurar em uma nova e emocionante missão do Clube Barony. Ajustem o relógio, o tempo está marcado, cada minuto será importante. Desta vez os charlatões terão que enfrentar uma argilosa chantagem do rival. Sebastian Pig é um traficante e também entregador de mercadorias encomendadas, atua com maior formalidade em seu aparatoso caminhão de cargas médias pela alfândega entre Bangladesh e Índia. Sua proposta não parece ser nada agradável ao grupo, se tornou um rival recentemente. Outra sinuca está formada sobre a mesa financeira de Flammer, o então chefe do Clube Barony. Apenas uma saída o conduzirá ao êxito da jogada e não há outro caminho, senão, o retorno à ilha perdida.

Um cenário radical foi criado, a moderna cidade de Nova Delhi surge como o foco principal. A transferência da base parece fomentar um caminho rumo a modernidade. Algumas cidades importantes da Índia surgirão como cenários secundários. A ilha continua arriscada e ainda mais emocionante. Novos desafios resultarão com a inclusão de mais um helicóptero. As drogas farmacêuticas, porém, não serão suficientes quando o embuste estiver lançado. Muitos conflitos decorrentes da busca pelas pérolas serão cruciais, o prazo está determinado, uma mercadoria está detida nas mãos do recém-rival Sebastian Pig e tudo culminará com uma inesperada separação de Flammer e Nycolas, um estimado companheiro de aventuras.

O MERCADO

Dia comum em Nova Delhi, cidade onde agora o secreto Clube Barony se estabelecia. O grupo formado por vários mafiosos surgiu de um empreendimento ilegal de mercadorias farmacêuticas adulteradas na cidade de Dacka, em Bangladesh, no envolvimento com transportes de tráficos e vendas. À um ano atrás houve uma interdição do comércio quando as drogas genéricas se tornaram escassas. A pouca produtividade e o dinheiro para novos investimentos, se tornaram o principal fator do período instável pelas rotas do narcotráfico naquela época.

As substâncias exportadas para fabricação de novos conteúdos foram suspendidas, muitos laboratórios permaneciam obstruídos e a polícia agia em constante monitoração nas rodovias de saída ao Himalaia e no oeste da alfândega. O colapso responsável pelo desaparecimento das drogas contribuiu para que o Clube Barony recorresse à novos métodos financeiros para garantir a sustentabilidade do tráfico e para a construção de uma nova matriz. A busca por pedras-preciosas tornou-se o principal vínculo do grupo.

A primeira alternativa surgiu pelo comércio de diamantes, que foram captados e transportados de uma mineradora desativada ao norte de Bangladesh, nas aproximidades da região de Sylhet, um dos distritos ao norte do país. As adversidades em relação ao comércio dos diamantes devido a ação da polícia que havia bloqueado a movimentação do tráfico após o primeiro embuste, compeliram o grupo à uma outra alternativa. O comércio das pedras-preciosas, claro, continuou ativo, a maior parte da especiaria pode ser vendida aos comerciantes artesanais do próprio país, alguns estrangeiros eram atraídos pela compra específica de diamantes quando as negociações ganhavam melhor acessibilidade no valor, mas por um longo período o grupo manteve as negociações sob a venda de pérolas.

A interseção da polícia inibiu a atividade dos traficantes, quando operava novas investidas ao norte. A atividade policial resultou na apreensão da mercadoria traficada. O grupo, tendo uma encomenda a ser entregue, teve que encontrar outro método para suprir a última entrega de diamantes negociada com uma grande joalheria em Dacka. Por sinal, esta foi a mesma mercadoria de diamante, apreendida na mineradora desativada na divisa com Sylhet. Encontrar pedras-preciosas para substituir a mercadoria não foi tarefa fácil. O grupo estava envolvido em complexas situação que acabaram por induzi-los à uma longa aventura no exterior. A viajem, por fim, foi útil para que o grupo conseguisse as pedras-preciosas encomendadas. Uma ilha inexplorada foi descoberta e uma grande quantidade de pérola foi adquirida. As pérolas suprimiram a encomenda feita e ainda lhes restaram muitas porções para as vendas posteriores.

Alguns meses depois do tempo de captação de diamantes na mineradora desativada conhecida como bangladiamond, e da captação de pérolas na ilha perdida, o grupo retorna à produção de drogas farmacêuticas. Todo dinheiro adquirido pelas vendas das pedras-preciosas, foi transferido para contas no exterior, após terminarem as suspeitas do crime. Uma grande matriz foi implantada na Índia e a nova base foi estabelecida em Nova Delhi por Benayla Yriodit, o principal líder do grupo. Homem austero e áspero. Agia às vezes de modo severo, seu temperamento lhe fazia ser comumente chamado de Flammer, usava roupas sociais às vezes em estilo esportivo, seu perfil comum de um magnata oriental lhe dava um realce diferente. Ao terminar suas vendas, com uma grande quantidade de pérolas conquistadas na paradisíaca ilha perdida do Golfo Indonésio, Flammer adquiriu maior influência sobre o comércio de drogas na Índia.

Novas substâncias foram trabalhas para fabricação de pílulas genéricas, o fundo adquirido pelas vendas das pedras, claro, foi um dos principais fatores para o sustento do grupo. O Clube Barony adotou uma nova linha de remédios adulterados quando de modo incrível encontraram a então milagrosa porção de pérolas, que foram negociadas pela joalheria Radiance em Bangladesh, cujo principal tratante seria o afamado, Wald Ganiev. O grande sucesso das vendas levou o sócio de Benayla, à grandes negócios que tornaram responsáveis pelo aumento constante de suas vendas.

Nycolas, uma antigo sócio do grupo, cooperou nas conquistas das primeiras porções das pérolas, seus negócios cresciam exponencialmente. Seus produtos eram similares ao mercantilismo do Clube Barony, a droga tornou-se competitiva, por muitas vezes suas mercadorias entravam em complexos acordos nas negociações com os traficantes locais. Nycolas, contudo, mantinha relações secretas com Flammer, seu mercado estava à baixo do sistema empregado por seu sócio, geralmente, se sujeitava aos seus impostos, e seu grupo agia em proporções menores em comparação ao grupo vigente de Nova Delhi.

  

A ENTREGA

 Em seu escritório, Flammer realizava novas negociações com um conhecido sócio da Índia. Seu nome era Lean Van Wilster, homem vulgar, possuía um cartel farmacêutico que se estendia até partes da Rússia. Realizava constantes encomendas das drogas, o preço acessível era o seu principal interesse. No gabinete particular ambos faziam as negociações, a sala de vinte metros quadrados abrigava uma pequena mesa de madeira sinuosa revestida de alumínio fundido e duas cadeiras móveis de material sintético. As cadeiras se posicionavam uma contra a outra entre a mesa para as devidas negociações do clube. De frente à mesa, uma única parede era toda feita de tijolos refratários. Sobre esta parte se pendurava uma das relíquias do grupo transferida de Bangladesh.

O forro de gesso no teto formava uma moldura saliente e que seguia até a posição central, moldurando a grande arandela da luz. A mesma moldura ornamentava as pilastras em forma de capitéis incluindo o espaço do clube. Um quadro guarnecido de vidro fosco estampava o emblema do clube em detalhes dourados da superfície exposta na parede de tijolos, duas poltronas gôndolas realçavam o recinto. Pela parede de frente à porta de entrada, entre as duas poltronas, uma pequena mesa de madeira redonda, também revestida de alumínio, sustentava um jarro de acrílico com um arranjo de holambra.

Lean Van Wilster estava prestes a assinar um acordo, uma longa conversa havia se decorrido daquele encontro. O sócio se aproxima da mesa fazendo mover as rodas da cadeira. O papel de contrato sobre a mesa é analisado, logo em seguida, uma caneta prateada que continha uma grife do nome do negociador é retirada do bolso.

_Quatrocentos quilos das drogas até a farmácia em Jairpu e nada mais. - propôs Van Wilster ao acentuar a ponta da caneta sobre o termo.

_Não se hesite, as drogas estarão em suas mãos hoje mesmo. Enviarei um dos meus homens para realizar a entrega.

No mesmo instante Flammer toma o telefone ao lado para ativar o contato com Ryah, seu motorista preferencial, em um outro setor do clube onde operavam os capangas nas embalagens das drogas.

_Ryah, compareça em meu escritório, quero que conheça uma rota de encomenda.

Ao desligar o intercomunicador, Flammer pega o termo assinado. Van Wilster acrescenta:

_Farei o pagamento quando a entrega for cumprida.

Flammer ainda observava alguns trechos em cujo texto se identificava algumas das principais drogas genéricas de biossintética encomendadas.

_Cloridrato de Merformina, Ginkgo, Maleatos, Mononitrados... - sua voz surgia em nível baixo ao recitar os contraceptivos.

_Tiboloína! - Exclamou em tom mais alto.

Tiboloína era um remédio genérico analgésico que produzia efeitos contrários e sedativos sem a recomendação certa.

_Não se espante, alguns de meus clientes usam em pequenas dosagens enquanto estão em serviço.

Logo em seguida Ryah surge pela porta principal após sua licença.

_Entre. - convidou Flammer.

Ryah entra, ao mesmo tempo em que Van Wilster se levanta para o cumprimentar.

_Esta é a entrega. - Flammer lhe entregou o termo do acordo feito.

O motorista faz uma breve leitura:

_Epidemia em Jairpu? - se espantou Ryah franzindo o rosto ao conferir os produtos selecionados.

Van Wilster deixou escapar uma breve risada.

_Não, não, o preço dos maleatos estão relativamente baixo, quero abranger um estoque sustentável antes que ocorra alguma imprecisão.

_Como sempre, precavido, porém pessimista... Não é de se espantar que nosso sócio Van Wilster faça este tipo de compra. Quanto aos maleatos, encontramos a cópia do produto recentemente, breve tratarei de aumentar o valor da mercadoria. Certamente evitarei que a mercadoria seja percebida pela polícia. – comentou Flammer.

Em seguida ordena ao seu assistente:

_Quero que faça esta entrega ainda hoje, prepare os produtos e não falhe.

 

_Bom, este é o endereço. - Van Wilster entrega à Ryah um pequeno cartão de visitas onde havia escrito o endereço da farmácia em Jairpu.

Os homens se despedem, uma encomenda deveria ser entregue. O antigo galpão do grupo possuía uma linha de capangas agora mais extensa. Muitos operários armazenavam as pílulas no pequeno laboratório localizado não muito distante do clube. As embalagens das caixas, a confecção dos rótulos nos frascos e a separação das drogas eram feitas pelo grupo de traficantes. Algumas máquinas produziam as drogas automaticamente, e outras eram postas nas pilhagens pela ação dos assistentes. As drogas eram comerciadas sem legalização, as embalagens copiadas de alguns remédios traziam informações idênticas. Qualquer deslize poderia ser fatal para o malicioso Clube Barony.

Por outro lado, a maior parte da sua conta pôde ser paga, mas ainda manteve um antigo débito milionário com Sebastian Pig, que por aceitar suas mercadorias em troca, preferiu fazer outros investimentos externos até que pudesse recompensar o dinheiro. Quase no mesmo período de mudança do clube, o traficante passou a negar as suas mercadorias, faltava ainda muito e o saldo se acumulava quando alguns comparsas de Flammer sempre debitavam as mercadorias de pílulas para laboratórios na Índia. Foi assim que na rodovia Sepastian Pig confiscaria um de seus transportes milionários de mercadoria farmacêutica onde também havia muitos narcóticos e dinheiro.

Sebastian Pig exigia tão-somente, que a dívida fosse quitada o quanto breve estipulando o prazo do trato a ser corroborado. Pouca distância separava o galpão, da localização do prédio, cerca de um quilômetro. Ryah atende o pedido feito pelo cliente, poucos minutos se passam até a saída do prédio principal. Com seu próprio carro conversível azul marinho, o motorista acessa o portão automático da garagem, que subia automático ao se curvar pela dobradiça mediana. A ordem foi dada antecipadamente aos capangas que nada obstante, iniciaram a postagem da demanda solicitada em um dos caminhões de carga. O caminhão usado seria um modelo pouco similar do segundo caminhão apropriado para cargas médias. Possuía cabine-dupla, sua frente pouco achatada emitia um efeito branco reluzente produzido pela polidez das laterais em cujas margens superiores passavam-se os adesivos pretos realçando o aspecto frontal. A carroceria metálica possuía uma saliência, as portas permitiam acesso pelas aberturas laterais e pela abertura traseira. Por esta parte de trás os integrantes do grupo estocavam as mercadorias.

Uma rampa automática foi acionada, os embarcadores de ferro com as pilhagens das drogas foram se movendo por quatro assistentes. O transportador possuía duas rodas entre o eixo inferior e a base de ostentação. As maçanetas dos canos superiores permitiam que a mercadoria fosse embarcada com maiores quantidades.

Os capangas usavam roupas extravagantes, blusas tropicais de seda, peças valiosas ao longo do corpo e tecidos caros. Breve as pilhagens foram ocupando boa parte da traseira. O serviço se finaliza, Ryah se despede dos quatro homens, entre estes, permaneceu Said, um dos principais chefes do galpão incumbido na administração das cargas internas, possuía cabelos curtos negros, usava uma blusa de cetim escura e um bracelete de ouro, era um dos homens de Nycolas.

Uma rápida checagem foi feita, tudo parecia perfeito para a entrega. As caixas possuíam uma largura maior em comparação ao conteúdo depositado no interior, de modo que o volume não era específico à quantidade dos remédios. As colunas formaram linhas de dez pilhas que foram devidamente estocadas. A quantidade, de fato, era compatível ao número relacionado ao termo.

Finalmente a última linha foi conferida, a mercadoria estava pronta para a partida, um espaço considerável permitia a postagem dos dois embarcadores. Em seguida, um longo aparador metálico em forma de haste foi posto entre as bases para manter as mercadorias fixas. Ryah finalmente suspira, realiza a última ligação à Flammer para informar sobre a partida, toma as chaves do veículo após fechar as portas traseiras iniciando, por fim, a viajem rumo à Jairpu. Said um dos que manejavam as cargas, o acompanharia como auxiliar de piloto. Seria útil como ajudante de descarga.

  

ATAQUE SURPRESA

 

 Na segunda rodovia à oeste Ryah dirigia entretido em seu veículo. Seu óculos escuro protegia a luz do dia que sobrevinha do painel frontal, em poucas horas precederia a noite. Os fones de ouvidos pareciam emitir uma música agradável, as marchas eram movidas simultaneamente. Seu relógio prateado brilhava intensamente. O acessório formava uma combinação ostentável com os quatro anéis. O primeiro, do dedo menor, fundia-se com detalhes da pérola anteriormente comercializada. Ryah e Said conservavam uma mera vaidade exibida pelas marcas dos acessórios, seus cabelos soltos se deslizavam com o espesso vento vindo pela direção das janelas, embora solteiros, possuíam vagas relações amorosas.

À poucos quilômetros da chegada, algo parece surpreender os traficantes. Um bloqueio formado por alguns homens trajados de roupas escuras impedia que o caminhão passasse pela pista que se seguia. À princípio Ryah pensou tratar de um acidente, as roupas escuras esvoaçavam pelo vento, um dos três possuía óculos, o caminhão se aproxima à duzentos metros, o outro usava um rifle, mas ainda não eram identificados.

Said toma um binóculo do porta-luvas, Ryah reduz a velocidade, o veículo se aproxima mais alguns metros e Said finalmente consegue constatar a presença das armas.

_Pare o veículo... - advertiu Said ao devolver o binóculo, Ryah se assusta.

_Estão armados. - concluíu.

Imediatamente Said se reclina no banco para sacar sua pistola no coldre de sua cintura, repõe o pente automático e se alarma. Ryah ainda dirige o caminhão à alguns metros e engata o ponto-morto da marcha acerca de cem metros. Seu óculos escuro, que foi posto ao estacionar o veículo, não permitia o discernimento do bloqueio do carro com os homens armados, mas sua pistola ao lado foi sacada em seguida. Um carro Pólo preto estacionado horizontalmente entre as duas pistas, junto com os homens posicionados pelas laterais, bloqueava a passagem do caminhão pelas duas saídas. Talvez Ryah conseguisse passar pela margem entre o encostamento, porém, preferiu estacionar. Os homens entraram no carro que permaneceu imóvel durante alguns segundos.

Um momento de suspense envolvia ambos, Ryah com as mãos entre o gatilho e o volante esperava algum sinal. Na pista de retorno, poucos carros passavam, dois ou três conseguiram contornar o carro do bloqueio pelo encostamento. O trânsito era quase inexistente. Pela mesma pista não havia carros, tão-somente o caminhão que dificilmente realizaria a manobra de contorno pelo encostamento.

Alguns segundos se passam, os três carros pela pista de retorno que atravessaram o bloqueio, cruzam quase no mesmo instante em que o caminhão é novamente acionado após a entrada dos homens ao veículo, a rodovia tornou-se vazia. Apenas um carro se aproximava pela pista de retorno, após a passagem dos três primeiros veículos. A dupla estava sob a mira de um grupo armado, de longe o carro desconhecido se aproximava.

O Pólo preto finalmente se move, Ryah tinha uma mera suspeita de que o grupo pertencesse à polícia, mas sem alternativa, engata a marcha-ré para fazer o retorno. A posição do carro conversível agora abria passagem ao se posicionar pela contra-mão. A passagem do último carro que lentamente se aproximava, era condicionada pela movimentação do primeiro. Ryah não teve chances, antes que o volante fosse manejado para fazer a conversão, o último carro o alcança, talvez a fuga fosse possível, mas nada sabiam que aquele estranho carro, estava diretamente ligado ao outro.

Novamente Ryah estaciona, um Véctra branco atingiu uma aceleração maior e alcançou a parte dianteira do caminhão. Said se espanta, não havia saída, os homens, à dez metros de distância, descem do carro armados, um deles sinaliza com a arma ordenando a descida de ambos, mas Said tomando a iniciativa dos primeiros disparos, reage. O grupo revida, Ryah o ajuda com quatro tiros subseqüentes. O próximo carro Pólo se aproxima, tratava dos mesmos homens de Sebastian Pig, um sócio distante do clube. Os disparos dos tiros entre as duplas acertaram a lataria em ambos os carros, de sorte, ninguém ficou ferido.

O conflito logo termina com a chegada do segundo grupo ao convergir novamente pela pista de retorno. Armados pela janela, tiraram a concentração de Said, que se rende em seguida pela desvantagem de cinco homens ao descer do veículo. Três homens ao mesmo tempo descem do carro, os outros se aproximam, Ryah, em sinal de paz, entrega sua pistola. Inevitavelmente mobilizados, são ordenados a posicionarem as mãos à cabeça. Um dos homens explica:

_Somos enviados de Sebastian Pig, este bilhete deverá ser entregue à Flammer. - colocou no bolso de Ryah que mantinha as mãos na cabeça após a ordem do líder entre os cinco estranhos.

_Agora quero que andem setenta pés à frente e não olhem para trás, a mercadoria será devolvida com as devidas condições estabelecidas no bilhete.

Um outro homem robusto empurra-os para se moverem, Ryah segue com um rápido passo à frente, o caminhão foi apreendido, a dupla se move e os carros iniciam o contorno para retornarem à alguma suposta cidade no interior traficada por Sebastian Pig. A dupla não tinha chances, o próximo posto estava à quinhentos metros e a carga inevitavelmente foi detida.


UM NOVO DESAFIO

Um ano se passou, as pérolas conquistas finalmente se esgotaram, o Clube Barony retorna ao comércio das drogas. As mercadorias farmacêuticas foram superadas e o grupo estava perto a entrar em um novo desafio lançado pelo responsável da cilada na rodovia oeste. Sebastian Pig, um outro traficante de renome, vendia drogas adulteradas e atuava nas principais estradas da Índia meridional ao Golfo de Bengala. Em algumas ocasiões agia como oponente do grupo.

O grande Sebastian Pig, homem gordo e vulgar, usava roupas largas, chapéu aveludado, braceletes caros em torno dos braços, um relógio dourado modelo raro da linha Roadster da marca Russa Cartier, exibia um esnobe perfil de um dos principais milionários do golfo. Seu imponente caminhão permanecia secreto na garagem escondida de uma cidade pacata à trezentos e cinquenta quilômetros de Nova Delhi. Um acordo secreto feito com um dos sócios de Flammer culminaria com a ação do traficante.

A quantidade do valor oferecido pelo capanga não foi suficiente para quitar uma parte igual da mercadoria pretendida, novamente Flammer passaria a devê-lo um dinheiro à mais acrescentado em sua conta particular. Uma antiga dívida ainda estava pendente, para Sebastian Pig, somente a apreensão da mercadoria poderia forçar Flammer ao pagamento. Naquela mesma tarde após as negociações, Flammer permanecia em seu grande escritório impregnado, o telefone toca, era Sebastian Pig.

_Basta! - queixou em tom de voz grave - Um de seus assistentes violou uma mercadoria, o débito foi acrescentado na sua conta, definitivamente não posso aceitar que a conta se acumule.

 Sebastian lhe fazia as cobranças constantemente de uma dívida do Clube Barony.

_Não se hesite companheiro, farei o pagamento em breve.

_Exijo o pagamento de novas porções de pérolas como da vez anterior. Tenho alguns negócios em desenvolvimento e não posso abrir mão da cobrança.

As pérolas conquistas serviram para o pagamento da primeira parcela da conta, mas ao longo dos tempos novas parcelas foram se acumulando, uma dívida havia se firmado entre ambos.

_Lamento, as pérolas se esgotaram no outono passado, não tenho mais porções.

_Somente espero que seu caminhão cargueiro de cabine dupla possa compensar.

_Do que está falando? - Flammer questionou espantado percebendo que Sebastian Pig lhe direcionava algum tipo de indireta.

_Ryah e um dos seus capangas seguem andando pela segunda rodovia oeste, rumo à Jairpu, seu valioso caminhão de cabine dupla se encontra detido junto com a carga até que o pagamento total do débito seja feito. Quero que tudo seja pago, nenhum centavo à menos.

 Ryah foi pego pelos aliados de Sebastian Pig enquanto andava com uma encomenda na estrada. Foi surpreendido por metralhadoras, inevitavelmente a carga se perde.

_Como ousa? - se estranhou - esta carga é uma mercadoria milionária, todo produto ultrapassará o valor da conta.

_Sinto muito companheiro Flammer, mas concedo apenas quatro dias até que consiga pagar a conta, aceitarei as pérolas em troca, o dinheiro à vista ou seu valioso caminhão com as cargas como recompensa do débito.

_Tudo bem, qual é o valor estimado para pagar a conta em relação à carga incluída do transporte?

_Levando em consideração o preço das suas mercadorias, receio que duzentas embalagens das drogas em pílulas.

_Isto equivale à dez quilos de pérolas, talvez eu consiga a proeza!

_No entanto, negocio apenas dinheiro à vista ou os dez quilos de pérolas, nenhuma grama à mais além disso, embora eu possua muito dinheiro para comprar grandes quantidades, não conservo gosto pelas pedras. Minhas negociações estão diretamente ligadas ao tráfico das drogas. Enviarei meus aliados para negociações aos joalheiros, abrirei exceção quanto à finalização da conta. Faço o pagamento à vista caso pague a dívida, dez quilos apenas também, nada além disso, isto se  lhe restar porções de pérolas até lá. – zombou sorrindo de Flammer.

Flammer desliga o telefone enraivecido, sua cadeira móvel se vira contra a janela, de longe observava os prédios que se estruturavam ao longo da região de Nova Delhi. Alguns minutos se passam quando finalmente o telefone torna a tocar. Ryah deposita as últimas fichas numa ligação pelo posto de combustível da rodovia.

_Tenho péssimas informações... - disse aborrecido ao lado de Said em uma cabine telefônica de certo posto na estrada.

_Já sei, - interrompeu - a carga foi detida.

_Lamento, tentamos impedir, mas éramos dois.

_Foram os capangas de Sebastian Pig, já tenho planos para reconquistar o caminhão. Faça o retorno, estarei o aguardando em meu escritório.

  

O PLANO

 A dívida tornou-se um ponto minucioso na carreira do clube, Sebastian Pig se interessava pelas porções de pérolas, porém, Flammer havia negociado toda carga de pérolas que se extinguiram com as vendas anteriores. O dinheiro fornecido foi financiado para a conclusão da matriz na Índia. A fortuna a ser paga alarmou Flammer que se sentiu forçado a convidar seu sócio Nycolas para um rápido encontro particular, onde teria a oportunidade de fazer as devidas cobranças. O assunto referia-se à um cheque estagnado que deveria ser liberado pelo o então sócio.  

Flammer estava em seu aposento quando ainda os ponteiros do relógio marcavam poucas horas ao anoitecer. A notícia de que as mercadorias foram apreendidas o deixava cada vez mais complexo. O telefone em cima de sua mesa do escrínio é acionado, uma ligação direta foi direcionada à Nycolas, a ansiedade lhe dominava os sentidos, os segundos se passavam lentamente, após alguns toques finalmente o telefonema é atendido.

_Nycolas Toledo. - uma voz aguda e receptiva surgiu pelo fone de ouvido.

_O que ocorre após ascender um isqueiro?

Alguns segundos se passaram, mas Nycolas rápido assimila a charada com o apelido de seu sócio Benayla.

_Flammer? - respondeu ainda em dúvida.

_Acertou meu caro, - um isqueiro de bronze moldado é ascendido, um charuto parecia ser um meio de se acalentar da notícia - estou literalmente em chama, em breve serei o acendedor do estopim.

_O que houve?

_Minhas mercadorias foram detidas na pista rumo à Jairpu. Sebastian Pig deseja que uma antiga conta seja paga. Quatro dias foram propostos para que o pagamento seja efetuado, porém, não tenho outros recursos.

_Infelizmente amigo, não tenho como ajudá-lo. Tenho tido baixas em minhas relações no narcotráfico, os negócios estão pendentes...

_Não se preocupe, não vou lhe pedir empréstimos, quero marcar um encontro para melhor conversarmos, trataremos de outros negócios.

_Estou hospedado no hotel Maurya à poucos quilômetros de seu escritório. – disse Nycolas - Marcarei duas reservas no restaurante Bukhara, o local é de simples acesso, bastará apenas sua identificação ao recepcionista.

_À que horas?

_Às nove.

O horário foi breve combinado, dentro de poucas horas Flammer se encontraria com um de seus principais sócios. O telefone é desligado, algo estava para acontecer, quatro dias não seriam suficientes para cumprir com a exigência estabelecida. Diante da janela, novamente Flammer observava a paisagem formada por edifícios suntuosos, trânsito rápido e pedestres pacíficos que transitavam pela pavimentação.

O poente do dia logo precederia a noite. Desde a emboscada das mercadorias até aquele momento, já havia se passado tempo suficiente para que Ryah ressurgisse com mais detalhes da apreensão de Sebastian Pig. A noite surge repentinamente. Flammer, após fechar a grande cortina da janela central, andava em direção ao postiço para pegar seu palitó. Antes de encerrar o painel de controle, finalmente Ryah surge visto em preto-e-branco pelo monitor das câmeras externas. Após a emboscada Ryah e Said haviam encontrado um posto de combustível e uma cabine telefônica para operarem a ligação. Com algumas fichas, Ryah conectou à um embargador público para levá-los de volta à cidade.

O novo escritório do clube, como em Dacka, foi arquitetado com mesmos detalhes do antigo prédio de dezoito andares em Bangladesh. A arquitetura foi espelhada no principal aspecto central da junção de três compartimentos especiais, incluindo o grande salão de reuniões e os corredores de acesso. O espaço interno, um pouco mais abrangente, novamente formava uma linha de estofados aveludados em torno das duas paredes paralelas em forma elípticas, sucumbidas por outras quatro poltronas na parede oposta ao pequeno altar do escrínio. A entrada era emblemática, o chão conservava o mesmo tapete cinzento com detalhes de alumínio. Alguns objetos foram acrescentados como auxiliares dos recursos eletrônicos na sala de reuniões.

Embora muitos detalhes tivessem mudado de aparência quanto a decoração geral, ainda se mantinham as tradicionais tochas prateadas similares às pequenas taças achatadas, que sustentadas por um castiçal moldado de haste longa, produziam um efeito cênico da luz emitida pela chama. O grande empreendimento desenvolvido pelas vendas das pedras-preciosas, de fato trouxe muitos benefícios ao clube. O escritório mantinha uma nova linha de gerenciamento moderno e os galpões do clube em Nova Delhi eram ocupados por novas mercadorias das drogas importadas.

O local foi construído após um investimento exorbitante. Antes que a empresa responsável pela construção chegasse à conclusão do projeto, o clube decidiu a compra de todas as residências no vigésimo primeiro andar, de sorte, o plano de engenharia incluía uma pista de pouso para helicópteros ao invés de luxuosos terraços e dois galpões para armazenamento gerais, que certamente facilitaria com a transição das drogas.

A grande quantia envolvida levou muitas modificações tais como a arquitetura dos galpões. O engenheiro-técnico era um antigo conhecido de Flammer e acompanhou na estratégia. A oferta para a finalização foi demasiada para que o diretor-geral recusasse. Em pouco tempo o grande escritório foi concluído em uma área nobre de Nova Delhi, com a conexão de duas áreas distintas do último andar.

 No escritório Ryah lamenta o fato, Flammer, que estava para sair recebe de suas mãos o bilhete branco entregue por Hector, que mais parecia ser o chefe do grupo, tratava da mesma chantagem de Sebastian Pig feita pelo telefone. A carta é posta em uma das gavetas do escrínio. Com seu palitó sobre o braço esquerdo, Flammer acompanha Ryah até a porta de saída.

Era quase sete da noite, Flammer tinha um encontro marcado e deveria comparecer ao local às nove horas. Antes da saída tudo foi sendo organizado em seu apartamento particular. Seu plano estava pronto, mas ainda havia uma sina pessoal que não o deixava se contentar com a notícia daquele dia, por sinal, a apreensão da mercadoria.

Era noite, o carro de Flammer se aproxima do hotel Maurya e o estaciona em local seguro. O restaurante Bukhara, localizado na área diplomática da região, pertinente ao hotel, oferecia um comedimento satisfatório aos seus clientes. Uma entrada translúcida, formada por um alpendre emoldurado, se dissolvia com tintas mistas entre o preto sintético e o esmalte branco cintilante das paredes. As lâmpadas fluorescentes compactas emitiam efeitos congruentes.

Flammer passa pelos seguranças que vestiam uniformes com emblemas, eram apropriados do hotel. Na recepção consegue a permissão para acessar o restaurante, Nycolas havia planejado antecipadamente. A área interna se dividia em algumas partes, na área de cozidos via-se uma chapa feita de tijolos refratários, um balcão de alvenaria e um aparador de granito. Os caibros formavam uma cobertura por baixo dos pilares entre os funcionários, o molde cumpria perfeitamente com o estilo rústico do local.

O piso porcelanato se restringia na área de serviço, que terminava com uma adega de taças cristalinas, lenços e talheres. Uma linha de banquetas gôndolas contornava o local, a madeira realçava o visual. No salão principal, algumas mesas eram ocupadas pelos supostos hospedes. Algumas áreas possuíam safares únicos feitos de teflon. Por esta área Flammer se aproxima acompanhado de um garçom.

O sofá desocupado com capacidade para quatro ocupantes contornava uma pequena mesa de madeira. Um jarro de acrílico conservava algumas plumas sintéticas em tons variados e sobre a superfície, o cardápio. O garçom estende o braço indicando a oferta do assento, em seguida, lhe deseja comodidade. Flammer tentava identificar seu sócio Nycolas que havia marcado o encontro naquele local, a movimentação era razoável, garçons e hospedes andavam por algumas partes, o som da conversação se dissolvia, as luzes ofuscadas eram típicas do ambiente.

Nada obstante Nycolas surge, vestindo uma roupa escura social de tecido fino, seu convidado se levanta para saudá-lo. O garçom é acionado com um aceno do companheiro.

_Um champagne por obséquio! - solicitou.

_Nada como um fino restaurante para tratarmos do assunto. - Nycolas comenta após ordenar a demanda da bebida.

_Não há dúvidas, esta ocasião será oportuna para lhe pedir um pequeno favor financeiro. O valor equivale acerca de duzentos quilos das drogas.

_O valor é muito alto, como lhe disse meu caro Flammer, não tenho nenhuma possibilidade em fazer empréstimos, estou com meus juros pendentes, esta causa acarreta na efetuação dos saques. Durante estes quatro dias ainda estarei com juros, o período será insuficiente até a liberação do carnê...

_Porém me refiro à sua conta com o clube. Um valor mais acessível talvez seja viável.

_E quanto equivale o valor? - perguntou.

_Cinco mil, quinhentos e trinta pratas.

_Sinto muito, ainda é insuficiente. - lamenta - Não há outra alternativa?

_Não tenho opção, o valor a ser pago deverá ser feito em dinheiro ou...

Flammer faz uma pausa, se lembrou de uma outra condição que estava em jogo, Sebastian Pig havia proposto cerca de dez quilos de pérolas em lugar do dinheiro para o acordo.

_Pérolas. - concluíu Flammer.

_Pérolas? - retrucou Nycolas.

_Pérolas? - perguntou o Garçom.

As pérolas comumente eram postas nas taças de Champagne, conforme a tradição indiana local. O garçom ainda suspendia a tenaz pronto para por a pedra sobre a bebida.

_Sim, pérolas. – disse Nycolas.

_Sabia que não recusaria.

O garçom obedece. Flammer retoma sua posição, havia se reclinado fixamente em direção à Nycolas para comentar a proposta, seu gesto oferecia espaço para as taças. As pérolas formavam algumas espumas sobre a bebida. Nycolas retorna ao assunto:

_Não sei se devo...

Antes que Nycolas terminasse, um brinde foi sugerido interrompendo suas palavras.

_À missão impossível!

E após um pequeno gole, Flammer entra em detalhes.

_Esta alternativa permite apenas a quantidade exata das pérolas com relação a conta, conversei com Sebastian Pig antecipadamente. Dez quilos de pérolas foram propostos, serão o suficiente para pagar a conta, no entanto, as pérolas se esgotaram com os investimentos do clube, os fundos foram direcionados às parcelas monetárias, somente serão conquistadas se fizermos um retorno à ilha.

_Não tenho muita certeza. A pérola se desvalorizou no mercado, embora tenha eu conseguido lucros com as porções anteriores, não vejo vantagens por conquistarmos mais quantidades. - Nycolas comenta e toma um pequeno gole de Champagne em seguida - Talvez Sebastian Pig sinta interesse em comprar as pérolas?

_Sebastian Pig está disposto a pagar pelos dez quilos de pérolas em dinheiro à vista, porém tenho que quitar o débito, o valor da conta certamente não será o valor exato das pérolas, talvez me reste alguma quantia para vendê-las, caso a viajem seja feita.

Flammer continua:

_Estava pensando a finco em realizar a viajem, mas queria que sua presença fosse primordial em uma segunda missão à ilha.

Ambos realizaram uma viajem anteriormente à uma ilha perdida e conquistaram algumas porções de pérolas.

_Ânimo companheiro, tenho uma linha de clientes joalheiros interessados pela pérola. - incentivou - Não comentei à princípio, mas sua conta poderá ser debitada à longo prazo. 

Dez quilos de pérolas por dinheiro a vista estavam em jogo, para Flammer seria o valor aproximado para quitar sua dívida e recuperar sua mercadoria farmacêutica, visto que, o empréstimo não seria possível. Nycolas por algum momento se interessou pela proposta, mas a prioridade era o acerto de Flammer, logo decide:

_Posso acompanhá-lo na missão, posso inclusive pagar pelo seu pacote de viajem à longo prazo, preciso apenas que se certifique.

_Não tenha dúvidas, esta é minha única opção. Realizarei uma reunião para discutirmos sobre o assunto, com este pacote terei maior abrangência ao cumprir a missão.

_Quanto ao cheque estagnado farei a liberação.

Nycolas retira de seu bolso uma caneta para a assinatura do cheque que foi posto sobre a mesa.

_Amanhã este valor estará liberado, porém, não chega a cumprir com a quantia estabelecida por Sebastian Pig em troca da sua mercadoria apreendida ou o valor que você tem referido.

Flammer observa a nota, o valor expresso era exato à uma antiga parcela na conta de Nycolas. O dinheiro seria suficiente para a compra de equipamentos na missão, porém, nada era suficiente para a reconquista da mercadoria apreendida.

_Certamente lhe pagarei pelo pacote de viajem quando o dinheiro entrar em vigor. Infelizmente o prazo estabelecido é pouco para recuperar o saldo, contudo, não me faltam fundos. Ainda tenho grandes economias a ser computadas, Sebastian Pig me pegou em um momento de imprecisão.

Nycolas ao contrário possuía juros bancários, era incapaz de efetuar saques naqueles dias, e somente no início do mês teria a liberação da conta que foi limitada pelo valor do saldo.

_Não se preocupe, as passagens estarão sob minha conta. - disse Nycolas ao levantar a taça para um brinde à viajem.

_Estarei o esperando às duas horas.

Após algumas horas de diálogo, o garçom surge com a conta exigida, os traficantes se despedem. Este definitivamente era um dos últimos negociadores interessado em pérolas e que estava disposto em dar o dinheiro em tempo breve, garantido e à vista. Ambos tinham uma missão a cumprir, novamente a dupla se arriscaria em um retorno à ilha perdida. O principal propósito era manter a mercadoria antes que fosse negociada e isto, em um prazo de quatro dias. Talvez as pérolas sejam equivalentes à nove quilos e novecentas gramas, talvez a ilha ainda possua mais porções de pérolas, talvez sejam suficientes para os exploradores.


A REUNIÃO

  

Um dia após o encontro com Nycolas, o grupo novamente se reúne no salão principal do clube. Um ambiente arejado mantinha um ventilador embutido, um sistema computadorizado capaz de monitorar as câmeras nas áreas externas e uma extensa janela moldada de aço maciço nos fundos. A sala possuía um aparato ideal para reuniões. As paredes similares à um ângulo elíptico formavam curvas até as extremidades da parede principal. Os bancos foram sendo ocupados pelos principais membros e finalmente Flammer recebe a vinda de Nycolas e seus assistentes, entre os acompanhantes, Said.

_Seja bem vindo companheiro. - o cumprimentou ao entrar pela entrada à direita do pequeno altar, sendo que pela esquerda do altar, era a entrada ao escritório particular.

Nycolas e seus companheiros se acomodam.

_Estes são os pacotes. - lhe apresentou as passagens para o vôo à Indonésia, local onde se situava a ilha.

_Estes bilhetes permitirá o seu embarque e de mais dois acompanhantes.

Flammer recebe agradecido.

_Excelente! - colocou-os sobre o bolso interno sem destacar o lacre - à que horas será a partida? - perguntou em seguida.

_Amanhã às oito, será um ótimo horário.

_Por favor acomode-se. - lhe ofereceu lugar estendendo a mão.

 

Flammer aproximando-se da mesa, abre a última gaveta por baixo do escrínio e retira uma pasta com as principais informações climáticas das regiões adjacentes à ilha.

_Enviei Bernard, um dos meus agentes espiões para investigar sobre a atual situação climática da ilha. E adquirimos a previsão atualizada em partes da região oceânica.

Um jornal de notícias meteorológicas fornecido em uma embaixada indonésica em Nova Delhi, não entraria em desacordo com a condição atmosférica local. Embora não houvesse ainda resultados definidos, mas estimativas sobre a incidência de alguns minérios na região, já era notório informações sobre clima e tempo. Flammer reduz a luz do ambiente e ativa um slide automático. Na previsão pré-definida do próprio mapa identificava-se uma alta nebulosidade nos arredores das principais ilhas.

 _Certamente haverá uma alta pressão de ventos fortes e oscilação do tempo no decorrer dos próximos dias.

Se não fosse a última atualização informada pelo relatório da embaixada adquirida por aquele agente, talvez o clube não tivesse a preocupação com o preparo do voô. Mas a notícia alarmou todo o grupo.

Flammer toma uma última página impressa da pasta para fazer um paralelo com a imagem exibida e discute:

_Aqui está - disse eufórico com o anúncio.

_Segundo as últimas notícias previstas pelo Centro de Meteorologia do país com base ao clima de uma ilha vizinha à cento e setenta quilômetros e a ilha de Christmas, região inicialmente habitada por australianos, haverá alta nebulosidade entre o percurso de uma à outra ilha.

O mapa emitido pela imagem automática exibido na parede mostrava detalhes das nuvens em tons azuis e partes de intenso calor em tons vermelhos. Chistmas e outras ilhas, ainda eram possíveis de serem analisadas devido as informações transmitidas pelo Centro de Meteorologia Indonésio. A ilha perdida, contudo, seria analisada pela aproximação longitudinal. A meteorologia constatava condição de clima instável, entre os dias vinte e sete daquele mês, desde o início da lua cheia, até o dia seguinte, e algumas frentes frias, com estabilidade no dia primeiro do mês seguinte.

_Esta região esta localizada acerca de mil cento e setenta quilômetros do litoral da cidade, mas a próxima região após o reabastecimento é a ilha de Keeling. - o próximo slide é ativado - A ilha perdida está localizada em torno de setenta e cinco quilômetros ao norte desta ilha, contudo, o clima permanece instável. Tudo indica que por esta longitude teremos maior dificuldade com a atmosfera.

_Uma chuva de grande incidência em uma área à noventa quilômetros no oceano Índico será constante. - Flammer aponta o local - A chuva coincidentemente iniciará em um período aproximado ao plano de vôo, passando à deriva da ilha em direção ao sul. Porém, de acordo com os cálculos da legenda, a latitude de noventa graus, a relação na costa oeste da baía de Java entre as ilhas e o percurso da chuva, haverá uma diferença de cinco quilômetros seguindo em direção noroeste até o momento do pouso.

_Como analisado, o dia vinte e sete será uma data ideal. A notícia revela um clima instável, não teremos a preocupação com a chuva, pelo menos à cinco quilômetros de distância que será o trajeto mínimo desempenhado pela frente, no entanto, existe o perigo com a alta pressão que atingirá parte do vôo percorrido. O trajeto foi manualmente elaborado em comparação as ilhas adjacentes.

As luzes são ascendidas novamente

_Ótimo plano, - comentou Elijah, um dos agentes do Clube Barony, usava roupas tradicionais - não tenho dúvidas de que conseguiremos realizar a viajem, mas devemos tomar todas as medidas necessárias para evitar acidentes. Um helicóptero auxiliar, por exemplo, é aconselhável. - sugeriu.

_Sem dúvidas, um helicóptero auxiliar pode servir como reserva de combustível e transporte. - concordou.

_Acredito que a idéia pode evitar algum suposto acidente. - Jhason um dos principais conselheiros de Flammer expõe sua opinião sobre o assunto - E talvez haja quantias inestimáveis tornando-se necessário a presença de mais espaço para transporte de carga e ajudantes - concluíu.

_Concordo, mas vamos deixar o assunto para mais tarde.

Flammer, retorna ao escrínio para ativa o próximo slide-show automático do retro-projetor, em seguida, volta à reduzir a luz.

_Vamos para o próximo plano. - ativou a imagem - Na missão anterior na ilha perdida, muitas fotografias foram tiradas, de modo que obtivemos à real consideração da região em detalhes gráficos. As informações governamentais não foram definidas e muitos lugares ainda são desconhecidos.

Bernard, um dos técnicos do clube, foi incumbido no preparo do mapa. O slide transmitia três imagens da região em ângulos diferentes, as fotos foram transpassadas para um modelo fictício. A maior incidência da mata era vista por tons verdes. O rio e as rochas adjacentes foram detalhados nas imagens posteriores do visor na parede.

_Como podem analisar, esta legenda é uma estimativa do clima.

A próxima imagem é ativada. 

_Esta é a localização da gruta por onde conseguimos acesso às pérolas na missão anterior. A gruta apresenta alguns pequenos salões ligados a partir de estreitas passagens. Entrando pelo antro principal teremos um total de seiscentos e cinquenta metros lineares interiores até alcançarmos o desnível da rota em uma galeria central. Neste local existe uma extensa fossa que representa cerca de dez metros de desnível.

A gruta é um tipo de rocha formada por rochas de origem sedimentar do fundo do mar Índico que tem como base o calcário composto do mineral calcita. A caverna juntamente com a ilha, provavelmente teria formado suas primeiras parcelas na época em que grandes regiões da ilha de Keeling, atualmente secas, se achavam cobertas de grandes lagos ou jaziam ainda no fundo do mar.

Flammer faz uma pausa para dizer alguns comentários voltando ao assunto do rio:

_Na última vez em que fomos afetados com a enchente do rio principal, conseguimos detectar o volume crescente das águas.

Ryah e Rajid eram acompanhantes de Flammer e Nycolas quando se perderam pela mata. O grupo se separou e após permanecerem acampados na margem do rio durante a noite daquele dia, conseguiram observar a inundação consubstancial das águas.

_Este é um fator importante a ser observado, o volume das águas naquele dia cresceu cerca de três metros além do normal, meus capangas notaram a distância nitidamente. Talvez este fenômeno ocorra com freqüência nas margens do rio. E se a enchente ocorrer novamente, sofreremos o mesmo perigo de sermos encurralados pelas águas correntes.

Após cerca de um quilômetro do salão central o grupo havia encontrado um tipo de lapa, uma caverna com altura aproximada à dez metros, algumas fossas ocasionavam o desnível interno com a enchente.

_Bernard operou alguns cálculos de acordo com algumas fossas que conseguimos identificar na gruta antes do salão-central. Considerando a altura das águas no joelho, o acréscimo de três metros da água para cada dia de cheia e a distância percorrida desde a entrada, chegamos a conclusão de um desnível de dezoito metros durante a próxima caminhada...

_Mas isto pode ser evitado. Se entrarmos diretamente pela rota principal de acesso ao salão das pérolas sem precisar entrar pelo antro de acesso... – explicou Flammer - Receio que haja constantes correntes no interior dos corredores, Bernard nos explica que, a abundância de substâncias de carbono na água e as fendas nas rochas da caverna, pode ocasionar a liberação de gás para a atmosfera, o que significa solução mineral saturado. Além de serem responsáveis pelas estalactites, podem contribuir com a formação da enchente pela precipitação.  

_Em poucas proporções. - acrescentou.

_Enfim, para evitarmos estas adversidades tenho planejado uma entrada estratégica pelo local aproximado do grande salão onde foram encontradas as pérolas. Se conseguirmos acessar diretamente por este salão, evitaremos uma distância de três quilômetros pelo interior da gruta ou uma eventual enchente pelos corredores.

_Entrementes, é uma ótima idéia. - concordou Nycolas.

A última fotografia, em fim, é ativada.

_Esta imagem está focada em um ângulo mais distante do pouso do helicóptero usado na vez anterior. No momento da partida procurei me recordar da saída do salão das pérolas quando eu e Nycolas encontramos a saída. Por coincidência, alcançamos um lago à sua margem, mas numa elevação de cinco metros da ribanceira. De sorte, este local está situado mais aproximado do campo de pouso do helicóptero do que pelo antro principal, porém em uma área diferente.

_Da última vez, notamos que a existência de um campo adequado para o pouso era difícil, visto que, muitas áreas eram cobertas por matas estreitas e espaçosas. Contudo, fotografei a região, realizei um parâmetro com a área do lago e a distância resultou na redução do trajeto pelo qual deveremos andar.

Flammer ativa o zoom para detalhar o campo.

_Entre o campo aberto onde executamos o primeiro pouso do helicóptero na ilha, desde à entrada da rocha, tivemos uma distância aproximada de seis mil metros executado. Porém agora, teremos maior facilidade ao acessar a gruta. Uma distância de dois mil e oitocentos metros separa esta nova área de pouso ao salão das pérolas.

_À princípio, ora, conseguimos identificar o antro aberto da gruta e realizamos o pouso em uma área mais adequada e mais perto da entrada. A saída, pelo contrário, é difícil de ser percebida no plano aéreo. 

Flammer move o zoom e ativa para uma outra posição do mapa.

_Desta vez, portanto, faremos o pouso nesta região, este mapa nos auxiliará. - indicou-lhes a área mais adequada em relação às margens do salão das pérolas, que era uma das localizações finais da gruta - Deste ponto até a costa da rocha faremos os dois mil e oitocentos metros.

Nycolas interrompe:

_Recordo-me que da última vez tivemos que sair pelo teto do salão das pérolas. Se realizarmos o trajeto e encontrarmos a saída da rocha, suponho que teremos problemas ao acessar o salão. Talvez teremos que escalar a rocha.

_Aceitável, mas tenho planos para conseguirmos entrar no salão sem muitas dificuldades.

O zoom é ativado com mais precisão em direção à borda da rocha.

_O plano será o uso de explosivos. Ao invés de escalarmos para entramos pela saída interna do salão no topo da rocha, faremos uma ruptura com as dinamites condicionando um pequeno atalho pelo lado externo oposto ao monte. Ou seja, no momento em que alcançarmos a rocha, teremos ainda que fazer uma volta até a outra ponta. A parede do salão neste local é ideal e menos consistente. - demonstrou a rota pelo mapa simulando o contorno com o dedo - O solo contorna a rocha apenas em algumas áreas exclusivas da parede, e a maior parte da parede está circulada por uma crosta rígida. Esta ponta do outro lado da rocha, apesar de ser formada por paredes menos consistentes e fáceis de serem rompidas, ao contrário das outras áreas, é desprovida do contorno do solo, ou seja, existe um penhasco de aproximadamente treze metros de altura terminando com o rio.

O rio era o mesmo que recebiam as águas do interior da gruta ao saírem do salão pela saída interna no topo. Porém se localizava em um outro ponto onde havia um penhasco.

_Sendo a cobertura da rocha de espessura menor por outro lado, suponho que a vazão do atalho dê de frente à entrada pelo lado interno. Ao entrarmos, teremos a imagem do buraco de entrada do salão em primeira vista.

_Certo, o atalho provavelmente se dará em direção à entrada interna. Por outros lados do salão há o perigo de atingirmos pontos desnivelados.

_Sinto muito, mas não entendi como as dinamites conseguirão explodir um lugar definido sem a base do solo, visto que, existe um penhasco nesta área. - perguntou Elijah.

_Não se preocupe, a parede da rocha por esta área é formada por cavidades e estufas planas. De sorte, há uma rocha horizontal entre o rio e o topo do monte que servirá de base para as dinamites. Nesta base serão implantados os explosivos. O atalho em relação ao plano do solo no salão, além do mais, servirá como refúgio e como prevenção em caso de emergência tal como a enchente da vez passada.

Flammer conseguiu provar a existência da base horizontal com a imagem, mas nada se sabia sobre sua espessura, poucos detalhes eram nítidos. Por este motivo Nycolas ressalta:

_Talvez a quantidade das dinamites seja maior do que o espaço da base para formar um buraco adequado.

_Claro, existe esta possibilidade, mas tratarei em encomendar dinamites adequados com relação à largura da base de cinco metros. Os utensílios de rapéu serão indispensáveis, o uso de cordas e ganchos nos auxiliará em uma eventual escalada pelas laterais.

A base era um tipo de rocha achatada lisa de cinco metros de largura para dois de comprimento, situada entre o topo do monte até o rio e envolvida pelas demais pilhas de rochas do monte. A rocha horizontal foi escolhida para servir como base das dinamites, que seriam encomendadas em breve com o dinheiro adquirido no cheque emitido por Nycolas. O cheque havia sido liberado naquele mesmo dia. Outros equipamentos para mergulho, escuba, cordas e ganchos, já eram garantidos pelo clube, tudo estava pronto para o momento esperado, mas somente dois seriam escolhidos para a viajem. O pacote de três passagens foi entregue por Nycolas após algumas negociações com Flammer.

O retro-projetor é desligado, as luzes retornam a iluminar a sala de reunião, Flammer decide:

_Quero que Ryah esteja preparado para ser o piloto do helicóptero. - Ryah se posiciona em sinal de acordo - Tenho um pacote de viajem à Indonésia, apenas com direito à três passageiros. Rajid, como da outra vez, estará incluído na missão. Jhason tomará a incumbência dos negócios no clube, estou decidido em fazer o aluguel de dois helicópteros, se possível, Nycolas estará sob o comando do segundo veículo.

_Sem dúvidas, também sou a favor do segundo veículo. Talvez a imagem não tenha sido fotografada, mas sabemos que na ilha existe uma base da reserva florestal. Este fator implica no aluguel de outro helicóptero.

_A imagem não foi disponível, a reserva está em outra parte da ilha, parece inabitada e talvez não tenhamos tanto perigo, mas toda precaução é aceitável. Farei o pedido dos helicópteros ainda hoje. - decidiu.

_Neste caso, além de Said, o piloto, posso contar com um outro auxiliar, um dos meus agentes, um ótimo franco-atirador. - disse Nycolas.

Apresentou-lhe um dos seus homens que estavam na reunião. Um homem de pele surrada e forte caráter acenou em seguida confirmando o acordo.

 

O RETORNO À ILHA

  

A reunião termina, os grupos se despedem, o plano ocorria como combinado. O pedido de aluguel dos helicópteros à uma empresa conveniada, foi feito ainda naquela tarde. Algumas figuras de uma revista publicitária, mesurada pela empresa, foram úteis na escolha de novos modelos para o vôo. O Crowne Plazza Jakarta, um hotel popular da capital indonésica, foi escolhido como local de encontro entre os grupos e principal ponto de partida à ilha. Os helicópteros encomendados foram, um motor Raven 44, com capacidade de consumo de doze à dezesseis galões de combustível por hora. De cor branco-nebuloso, possuía um adesivo preto decalcado entre o rotor traseiro e a superfície dianteira.

O primeiro veículo permitia o peso máximo de mil oitocentos quilos, incluindo a carga interna, seria essencial para que grandes cargas fossem transportadas. Para Flammer, a possibilidade de encontrar grandes quantidades de pérolas e minerais valiosos era maior. Por outro lado, o R66 com turbina Arrius 2F, foi o segundo. Possuía uma cor vermelho-sintético e uma linha branca complexa cumprindo com o mesmo formato do primeiro. Com potência máxima de decolagem de quinhentos e quatro shp, possui uma velocidade de alto nível acima de sete mil pés, certamente teria melhor praticidade ao decolar.

O plano de vôo foi marcado para após a chegada em Jarkata, e o primeiro pouso de reabastecimento, em aproximadamente quinhentas milhas no oceano após a partida do vôo.

A noite se aproxima, os traficantes ainda trabalhavam no galpão separando as mercadorias, embalando os conteúdos e manejando as máquinas de preenchimento das pílulas. Muitas drogas copiadas eram geralmente encomendadas pelas farmácias da região setentrional da Índia. As drogas se acumulavam exponencialmente e a hora do desfecho estava próxima. Embora ainda houvesse muitas encomendas até o final do mês, Flammer teria seu dinheiro circulando apenas no princípio do mês posterior.

Muitas parcelas foram investidas na magnificência estrutural do novo ponto do clube em Nova Delhi. Os dias até a primeira entrada monetária em relação ao tráfico, era equivalente à uma semana, promissória garantida, inclusive, por Lean Van Wilster, um dos negociadores ativos do clube. Mas os dias não poderiam ser admitidos por Sebastian Pig, que susteve uma longa dívida durante os tempos da transição do clube. Um dia havia se passado do prazo e, quatro dias foram propostos pelo chantagista, que negando toda forma de prorrogação, exigiu o dinheiro no momento à vista. De modo coincidente, Nycolas, um dos principais sócios do Clube Barony, também se encontrava em situação circunstancial, seus créditos estavam estagnados e a ocasião era uma das mais constrangedoras.

Nycolas não recusou, aceitou o convite para uma segunda missão à ilha. Uma sinuca havia entre as negociações, e as pérolas novamente surgem como objeto principal do cartel. O dia seguinte estava perto, a ansiedade do grupo era controlada por pequenas doses de narcóticos. Os traficantes capangas faziam hora-extra, mas todo equilíbrio era exigido por Flammer, a fim de manter sua economia ativa e balanceada.

Tudo foi feito como planejado e assim como os helicópteros, cerca de cem quilos de explosivos foram encomendados. O tempo se reduzia, agora lhes restavam pouco mais de dois dias até o pagamento da conta e cada dia era contado por Sebastian Pig, que abriu uma exceção, no tocante às pérolas. Além da última condição estabelecida ao invés da prorrogação do prazo, Sebastian Pig estaria disposto a fazer o pagamento em dinheiro no mesmo dia em que propôs o pagamento da dívida.

Após o preparo do plano, finalmente Flammer se encontra mais aliviado em seu escritório. As teclas do telefone sobre o escrínio foram acionadas. Depois de todo alvoroço, uma ligação confidencial estava para acontecer, alguns segundo dos toques se passam, nada obstante o telefone recebe a chamada:

_Domini Gallas? - perguntou Flammer ao chiado do telefone.

Domini era um dos sócios das drogas farmacêuticas fabricadas pelo grupo. Trabalhava geralmente como piloto de entrega do Clube Barony, que eram transportadas para o exterior por jatos clandestinos. Domini possuía um bom domínio aéreo, formou em aviação, aprendeu sobre geografia plana e tecno-ambiental. Seu conhecimento no ramo geográfico e seu acesso à documentos e informações secretas das regiões mais exóticas do mundo, foram os responsáveis pela descoberta da ilha inexplorada. Domini possuía hangares secretos, um deles, localizado em Bangladesh, serviu como piloto secreto de Flammer na missão anterior à ilha. No embarque do jato, estavam as armas e as pérolas transportadas pelo grupo. O vôo evitaria qualquer problema com as mercadorias.

_Em que posso ajudá-lo? - atendeu sem reconhecê-lo pela vóz.

_Um novo vôo secreto à ilha perdida no oceano índico. Como da última vez.

_Flammer?

_Sim, tenho novos plano para retornar à ilha. Preciso que embarque novamente com as armas. Desta vez tenho algumas dinamites à mais no transporte.

_Pensei que as porções das pérolas da quantidade conquistada da vez anterior, fossem lamentáveis à sua perspectiva.

_De certa forma, mas naqueles dias de exploração na ilha, tivemos sérios problemas com a inundação do rio, havia um prazo decorrente das conquistas das pérolas.

_Então desta vez sua disposição será mais abrangível na captação das pérolas?

_Não muito, o local será o mesmo, a perspectiva continua a mesma e talvez as pérolas sejam conquistadas em proporções menores.

_E porque não explorar a ilha mais afinco? Deve haver áreas em abundância das pérolas.

_Ainda vou pensar nisto, desejo até apropriar esta ilha, não tenho dúvidas de que novamente conquistarei abundantes pérolas, mas o problema é que, novamente tenho um prazo a conquistá-las.

_Incrível, posso ajudá-lo. Qual será o plano?

_Partiremos à Jarkata logo pela manhã, e o ponto de encontro será o hotel Crowne Plazza Jarkata. Neste local, nos encontraremos.

O plano particular incluía um vôo secreto de Domini, partindo de Nova Delhi à Jakarta, com o armamento e as dinamites e retornando de Jakarta à cidade, com o armamento e as porções de pérolas.

Ainda naquela noite, após o acordo com os jatos, Flammer recebe uma ligação de Nycolas:

_Tenho uma nova notícia. Um dos meus assistentes não fará o embarque pela manhã. Houve um imprevisto no setor de entregas, um dos meus clientes encomendou uma mercadoria a ser enviada ao sul da Índia. Este assistente, por sinal, estará incumbido nessa missão. Desta forma, tenho uma passagem restante e penso que um de seus capangas poderá ocupar esta vaga.

_Sem problemas, Jhason, um dos lideres principais na área interna será escalado. Foi ordenado a permanecer com o gerenciamento ativo, mas posso selecionar outro para ocupar esta função.

_Esteja pronto. Amanhã, às oito horas nos encontraremos no aeroporto.

Ambos se despedem, o esquema estava pronto, o dia seguinte surge, era manhã e os grupos se reencontram no aeroporto de Nova Delhi para o embarque ao Aeroporto Internacional de Seychelles em Jarkata, capital da Indonésia. O grupo somava cinco integrantes, em contra partida, haveria dois helicópteros disponíveis em um dos hotéis da cidade.

O segundo grupo de Nycolas surgia ainda distante pelo hall do aeroporto. Ambos os grupos se encontram no setor de embarque:

_Vamos nos antecipar, a hora da partida será em breve.

      _Este é Jhason, lhe fará companhia no segundo helicóptero.

      _Ótimo, esta é a passagem. – lhe entregou o bilhete.

A chegada no hotel Crowne Plazza foi bem-sucedida. O grupo acessa o último andar na base especial para helicópteros. Dois modelos sofisticados estavam estacionados na base como previsto por Flammer. A cabine interna possuía modens de supervisão latitudinal e GPS embutido na antena direcional. Ambos incluíam antenas de microondas com tecnologia RF2.5 direcionada. Todo recurso foi analisado pelo grupo a fim de evitava qualquer perca.

Da baía de Java, finalmente, o grupo parte em direção à ilha. Diferente da vez anterior, a viajem seria menos demorada, o desempenho dos helicópteros atingiu uma velocidade de duzentos e oitenta quilômetros por hora. Como previsto pela pesquisa do clima regional, uma grande incidência de instabilidade atmosférica obrigou movimentos bruscos. Em poucas horas o grupo alcança as primeiras partes do litoral da ilha de Christmas.

O helicóptero reduz acerca de dois mil pés do solo se aproximando da base de reabastecimento da ilha. Em um restaurante não muito distante foi acessado pelos aventureiros.

Assentados em uma mesa separada do restante do grupo, os dois lideres dialogavam sobre o assunto:

_Talvez Sebastian Pig sinta interesse em negociar o excedente dos dez quilos de perolas propostos? – disse Nycolas ao tomar sua xícara.

Pela parte de trás da vidraça, um dos operários realizava o abastecimento dos veículos.

_Segundo o acordo, os dez quilos estão limitados para as negociações. Sebastian Pig não se interessa pela venda de pedras-preciosas. Esta condição foi aceita apenas para quitar a dívida, caso contrário, esta mesma porção poderá ser comprada sem nenhuma grama à mais. Antes, porém, devo acertar a conta.

O grupo parte embarque, a próxima ilha seria a região de Kelling à oeste. Um longo trajeto foi desempenhado, mas algo parece interromper a tranqüilidade dos viajantes. Uma alta nebulosidade acomete ambos os pilotos. A visão tornou-se completamente nula. Ryah ativa o intercomunicador para avisar Nycolas:

_Estamos entrando em uma zona de perigo, perdemos seu helicóptero de vista. Uma pressão atmosférica insiste em mudar o sentido do vôo. – disse Ryah enquanto manejava o volante um pouco constrangido pela instabilidade do ar.

_Estamos sofrendo o mesmo problema. – sua voz saia bastante remota pela transmissão, a instabilidade também interferia na comunicação.

Por outro lado, Said também tentava se controlar da nebulosidade.

_Parece ser o contraste da chuva informada por Flammer passando à cinco quilômetros pela zona noroeste?

_Sem dúvida, vou realizar o...

No mesmo instante algo muda drasticamente a direção do veículo. Ryah se desequilibra do volante, o helicóptero se reclina à quinze graus. Era o R44 dirigido pelo assistente de Nycolas. O grupo saia da nebulosidade quase por colidir com a parte traseira do segundo veículo.

_Magnífico, alcançamos a ilha!

Logo à frente via-se a parte florestal que unida ao litoral formava um emaranhado de pedras até a planície. A região pouco explorada surgia após a nebulosidade. Extensas planícies verdes e volumosos montes de árvores silvestres ornamentavam a cadeia central da ilha, se misturavam pela mesma planície. Uma região paradisíaca forrada pelo verde natural, causava muitas admirações aos aventureiros.

_Estamos ricos. – urrava Nycolas em comemoração.

  

O POUSO

  

A reserva florestal estava em um outro ponto da ilha. Não havia registro de pessoas na região. A notícia de que uma pequena tribo habitava a região era uma preocupação maior, mas nenhum registro foi identificado. O grupo agia com todo cuidado, o novo visor GPS auxiliava na identificação direcional, o campo de pouso seria próximo ao salão das pérolas da gruta que dava início em outra localidade. Este seria um ponto diferente do pouso anterior.

Em algumas partes, a mata seguia estendida por altos arvoredos, encostados sobre as primeiras copas que se separavam das margens do rio. Em poucos segundos o helicóptero opera o pouso. O campo era uma área plana coberta por uma longa pastagem formando um prado separado das demais áreas florestais. Aquela posição, contudo, ainda permitia que fossem vistos por veículos aéreos.

_Ótimo, conseguimos realizar a viajem seguros. – disse Flammer após o pouso.

_Podemos explorar muitas áreas ao redor dos montes. Pode haver quantidades imensuráveis de pérolas. - comentou Nycolas.

Flammer por um lado estava disposto a explorar a ilha, mas seguia um certo receio íntimo quanto ao prazo da entrega.

_Sem dúvidas, a pretensão chega acerca de cem quilos de pérolas nesta região, mas vamos dar prioridade ao salão das pérolas, a presença das pedras neste local é certo.

_Quanto as dinamites, ocupei-me em descobrir algum modo para transportá-las diretamente até a base da rocha pelo helicóptero, como foi estudado na reunião.

_A mata ao redor da rocha não nos condiciona pouso, causando ainda, certa distância até o alvo. A carga de dinamite, ao contrário, é bastante pesada. Porém consegui um material embargador que permitirá que a carga seja transportada com segurança.

Nycolas ordena ao piloto para retirar o grande inventário.

_Consegui trazer em minha própria mala. No aeroporto tive problemas na identificação do material, os agentes questionaram sobre o aparelho, mas fui liberado ao dizer que seria parte de um eventual alpinismo que pretendia me aventurar.

O aparelho bastante resistente estava posto em uma mala específica de um metro e quarenta de largura. Poderia ser acoplado na parte inferior do helicóptero, de modo que, uma extensa corda fixa fizesse a descida pela alavanca, conduzindo a carga sustentada por uma grande lona negra.

_Esta lona é feita de fibras resistentes, serão seguras ao sustentar as cargas de dinamites enquanto o helicóptero permanece imóvel no ar. - Nycolas ordena para que a lona fosse estendida - As cordas nas pontas descerão lentas até a base da rocha e o mesmo processo será feito até a última carga.

_Grande idéia, precisamos de um piloto. - Flammer aprova.

_Ryan nos auxiliará enquanto Jhason prepara o equipamento das cordas com a carga.

Enquanto isso, as dinamites eram postas sobre a lona negra, pela parte de baixo do helicóptero, Jhason instalava o aparelho que sustentaria a corta com as dinamites.

_Quero que o restante do grupo permaneça na área sob vigia. – ordenou Flammer aos demais que permaneceriam na área - Jhason nos acompanhará enquanto o grupo explore algumas partes nos arredores do campo. A possibilidade de encontrarmos grandes porções de pérolas nesta área é muita. Porém, quero que não alcance áreas distantes, o único mapa estará em minhas mãos. Estejam armados, exploraremos juntos se tudo ocorrer bem.

O grupo concorda, outros três permaneceriam no local. As armas mais eficientes estavam disponíveis no helicóptero e, sob qualquer suspeita de estranhos, estariam incumbidos ao ataque.

_O piloto e Jhason retornarão com o helicóptero. - ordenou Nycolas - O material vem acompanhado de um kit para desembarque aéreo. Os coletes serão vestidos enquanto descemos pela corda, em seguida, ambos retornaram.

  

A ROCHA CENTRAL

 

 O grupo se separa, enquanto alguns partiriam para o local planejado, outros permaneceriam na área a fim de explorarem novas trilhas. As chances de encontrar rastros de pérolas eram grandes, um mapa apenas era levado pelo primeiro grupo, a aventura estava próxima e o helicóptero alça vôo com as cargas. O mapa nas mãos de Flammer auxiliava a equipe enquanto tentavam localizar a rocha pelo visor direcional:

_Este ponto é de difícil acesso, comentou Flammer, a mata volumosa e os arvoredos ao redor, impede maior parte da visibilidade da rocha.

Poucos minutos se passam, o local é identificado pelo mapa. Embora visto de cima, ainda não era bastante perceptível para discernir a entrada. A saída da rocha formava um tipo de teto encurvado e a cavidade formava um refúgio lateral impedindo a visão da superfície pelo ângulo reto.

_Ali está. - apontou Flammer reconhecendo a rocha pelas fotografias - basta depositarmos as dinamites com as cordas.

Nada obstante, as cargas são ajustadas sobre as cordas, as lonas iam cobrindo os primeiros quilos de dinamites, em seguida as cordas desciam com o uso da alavanca manual. O objeto foi colocado ao lado do banco traseiro por onde os conectores faziam a ligação direta ao aparelho.

O helicóptero permanecia imóvel, as hélices principais mediam dez metros de comprimento. Potenciavam um perfeito plano de vôo fixo. As hélices de dois metros e sessenta centímetros nos rotores traseiros mantinham o veículo pairado.

_Esplendido. - Flammer vibra ao ver as cordas descerem até a base onde no princípio foram calculadas as explosões.

A rocha horizontal estava no centro do picadeiro da rocha, possuía apenas cinco metros. Todo cuidado deveria ser tomado para que as cargas não fossem posicionadas fora do ângulo. As cordas desciam, a primeira carga é posta, um botão automático desativa as cordas fazendo retornar a lona negra intacta e desprovida de restritos. As outras cargas foram sendo ajustadas para a próxima emissão. Em pouco tempo foram postas ao redor da base, empilhadas e seguras. Tudo ocorria como previsto. Após alguns minutos, uma última carga de cinco quilos restou sobre o helicóptero, mas Flammer comenta ao estender o braço obstruindo a lavanca prestes a ser manejada por Jhason:

_Mantenha uma carga reserva em caso de emergência. – alertou.

Em seguida Nycolas e Flammer vestem os coletes para iniciarem a descida ao solo. Os mosquetões foram ajustados ao cinto, as roupas esvoaçavam, um grande vento era produzido pelas hélices.

_Conduzam-me pelo lado leste, - retirou o abafador de som do ouvido – quero pousar ao limiar da rocha, farei uma rápida observação da área para conseguirmos ativar as dinamites sobre a rocha. – dizia em tom de voz grave para que o pedido fosse compreendido.

O perímetro da área por onde se ajuntou as dinamites, embora condicionasse espaço, não seria o ponto ideal de espera. A borda da rocha em cujo solo fixo havia o espaço terrestre, se separava da base central acerca de nove metros e cinquenta centímetros de distância. A observação, de fato, deveria ser feita para que a ativação das explosões fosse segura. Se as rochas pelas laterais da parede condicionassem uma escalada, ou se pela descida até a margem do rio, condicionasse o rapéu, não seria necessário a presença do helicóptero para se efetuar a explosão.

O helicóptero se move um pouco mais para a esquerda do motorista, Nycolas queria a prova da segurança ao se despedirem do helicóptero. Flammer é direcionado pelo comunicador, um rápido cálculo foi feito pela primeira observação, após alcançar a parte terrestre. O rádio-transmissor é ativado:

_Tudo pronto, a rocha permite que a escalada seja feita. – informou aliviado.

Embora a simetria pudesse ser vista ainda pelo uso do binóculo, a observação natural, ao contrário, seria primordial para a segurança da equipe.

_Há muitos espaços pela parte próxima ao rio e pela encosta da rocha. Ambos os lados serão seguros para realizarmos as explosões. – concluíu.

_Estou a caminho. – avisou Flammer enquanto esperava pelo sinal.

Os mosquetões são conferidos, o piloto é ordenado:

_Faça o retorno com Jhason, faremos a primeira vistoria do salão rompendo a rocha com os explosivos. – sua voz saia gritante e sufocada pelo grande ruído das hélices - Após descobrirmos as pérolas, captaremos as porções colocando-as nas bolsas, em seguida, ativarei o rádio-comunicador para que façam o retorno para nos auxiliar no caminho de volta.

_Entendido.

A ordem é dada, as cordas descem Flammer descia lentamente em direção a borda da rocha. O veículo permanecia pairado, o estacionamento pela mata era impedido pelas grandes copas de arvores. Ambos alcançam o solo, finalmente o helicóptero segue destino ao campo de pouso. O solo pelo lado leste, por onde se encontrava a dupla, era mais plano e acessível, havia espaços vazios, desprovidos de árvores. Enquanto pelo lado oposto, o solo mais áspero impossibilitava espaços. Tudo foi perfeitamente calculado. Muitas árvores cobriam o declive que se formava por pequenas rochas emaranhadas aos arbustos de plantas. Acerca de treze metros à baixo da base onde foram posicionadas as dinamites, havia uma corrente que se debruçava nas paredes da rocha.

A mesma base estava logo à frente no declive da grande rocha à sete metros à baixo do topo por onde havia uma saída em forma de círculo. O nível do solo externo em proporção ao piso interior da rocha, parecia idêntico. Sendo a distância de oito metros do piso no interior do salão até a saída do topo da rocha, e pelo lado de fora, a distância de sete metros do piso da base exterior até a saída do topo da rocha, concluía-se que um metro de distância havia de diferença entre o nível de um e outro solo. Um pequeno degrau se formaria após as explosões. Apesar de haver outras bases de pedras similares espalhadas pelo declive da rocha, a base no centro, ao contrário, foi um molde extraordinário e ideal para sustentar as dinamites.

 Alguns metros de distância haviam entre as dinamites até a posição da dupla no solo pelo lado direito. O espaço possuía cavidades e pequenas pedras achatadas que possibilitavam uma escala sem muitos perigos. A dupla se prepara com as cordas e os ganchos. Dois fincos metálicos serviam para cravar as cavidades mais fáceis. Os dois iniciam a aventura, uma lenta escalada foi sendo feita pela esquerda até o centro. A base, apesar de sustentar as dinamites sobre sua superfície, ainda permitia alguns espaços na posição de pé ao lado das pilhas de explosivos.

Flammer cavava os fincos com cuidado em alpinismo, duas cordas eram sustentadas por uma estaca e reforçadas ao contornar os troncos de duas árvores à beira do barranco pelo lado direito. A estaca impregnada ao solo servia como auxílio de emergência. As rochas mais convexas eram mais fáceis de serem alcançadas pelos braços. Nycolas segurava com as mãos fixas, enquanto os pés se ajustavam as pontas íngremes. Qualquer erro poderia ser fatal, de modo que, antes das águas do rio, havia muitas pedras emaranhadas aumentando a gravidade do acidente.

  

A DETONAÇÃO

 

 A ponta da base horizontal primeiro foi alcançada por Flammer, que apoio seus pés fixos na rocha terminando a escalada.

_Conseguimos!

Nycolas surge em seguida e apoiado pelas mãos de Flammer, atinge a base com segurança. Por cima da rocha, as dinamites predominavam no chão e o pouco espaço minimizava os passos.

O penhasco observado por cima, formava uma inclinação pela cavidade interior. De modo que, se alguma coisa caísse de cima, as águas do manancial seria o primeiro impacto. A coluna horizontal era como uma pedra lisa, cerca de dois metros de largura para cinco metros de comprimento que, por isto, possibilitava poucos passos.

_Vamos preparar as dinamites, ativaremos quando estivermos alguns metros à baixo.

Flammer de vagar retira uma extensa corda de nailon que estava circulada sobre sua cintura. Nycolas retorna a observar o lado de baixo:

_Receio que a distância não seja ideal para esperarmos pelas explosões. Podemos sofrer riscos com os estilhaços das rochas vindo de cima. 

A distância entre a pedra e o rio talvez pudesse ser arriscada, mas Flammer estava seguro da qualidade das dinamites.

_Sem problemas, as dinamites encomendadas foram tecnologicamente criadas para causar menos pressão terrestre, o nível da magnitude foi reduzido para cerca de quinze por cento. Isto impedirá que as pedras inferiores sejam abaladas pelo distúrbio. Basta apenas implantar os estopins eletrônicos na parede.

Um outro acessório peculiar é retirado de sua cintura. Tratava-se de uma pistola-eletrônica movido à bateria que funcionava como um tipo de furadeira ou parafusadeira eletrônica. Os fios dos estopins eram envolvidos pelos pinos metálicos, Flammer inicia a perfuração.

_Os pinos atingirão vinte centímetros, - disse ao clicar o botão automático para dispensar o pino após cravá-lo na rocha.

O mesmo procedimento foi feito com o restante da dinamite. O estopim possuía uma tenaz de três pontas metálicas. Quando desativadas, tendiam a se esticar formando uma trava resistente. O tempo passa, as dinamites são bem implantadas na parede da rocha, os pinos são embutidos em pequenas cavidades, alguns ganchos são fixados na parede e um pequeno ativador sensorial das dinamites é retirado. Um clique apenas, faria com que a explosão fosse executada.

Duas cordas foram amarradas nas bases da parede. Do lado esquerdo estava Nycolas, do outro, á três metros de distância Flammer, que se preparava com as cordas para fixá-las ao cinturão. O modo mais prático seria a descida em rapéu, ambos concordam e a espera das explosões seria feita quase próximo ao rio. A base em sua posição formava uma espécie de côncavo e a lapa da parede, tendia à uma inclinação pelo lado interior.

Isto ofereceria uma cobertura auxiliar após as explosões das dinamites e uma distância relativa do apoio dos pés à parede.

Flammer se certifica da segurança das cordas dando fortes puxões, em seguida, crava fixo dois mosquetões auxiliares. A dupla inicia a descida, Nycolas recebe o sinal e opera o mesmo procedimento, os pés atingiam a parede em passos, nada obstante a correnteza é quase alcançada. Menos de três metros de distância separava a correnteza do ponto de espera da dupla. Duas estacas metálicas são cravadas na parede, a inclinação interior de trinta graus garantiria maior segurança partindo do ponto onde se posicionavam os aventureiros, ou seja, as pedras tenderiam a cair no rio antes de atingi-los.

Bastou apenas alguns impulsos para que as estacas alcançassem a fenda da rocha. Olhando para baixo percebia-se que a correnteza aumentava lentamente após algumas horas. Flammer estranha:

_Devemos ser ágeis. – disse tomando o controle de detonação do bolso ao lado esquerdo.

_Coincidentemente as águas estão aumentando como da última vez - concluiu.

Flammer havia reservado mais um pequeno conteúdo na equipagem, para que se caso não fosse suficiente para romper um buraco adequado, pudesse reincidir o detonador.  Olhando ao lado em direção ao seu companheiro, faz um sinal de positivo, Nycolas retruca acenando com a cabeça estando pronto para a explosão.

 

O SALÃO DAS PÉROLAS

 

 

O controle é direcionado à base, Flammer se reclina, o detonador finalmente é ativado. As primeiras bombas foram denotadas, as pedras foram estilhaçadas em frações de segundos, um grande ímpeto turbilhou na redondeza, lentamente a poeira caia por todas as partes, uma grande neblina cinzenta se formou pelos ares. Como prometido por Flammer, uma leve pressão se sentia das pedras em magnitude baixa, mas nada que ameaçasse a dupla. Do lado esquerdo, onde estava Nycolas, escorriam pequenos cascalhos sobre seu ombro, contudo, nada havia lhes prejudicado. Flammer se posiciona após a desconstituição da poeira:

_Farei uma vistoria do impacto, talvez seja preciso mais uma dinamite. Reservei um conteúdo auxiliar em minha bolsa. Espere aqui até que a ruptura seja certificada, darei o sinal quando for o momento.

O companheiro concorda, Flammer se antecipa descravando as estacas, subindo devagar, chegou até a base. Pequenos destroços do impacto se notavam ao redor, vários fragmentos de rocha estavam espalhados na base, porém a explosão não foi suficiente para abrir um buraco largo à medida de sua altura. Uma pequena entrada menor que um metro de altura para cerca de quarenta centímetros de largura não propiciava sua entrada, nada pôde ser identificado. Com uma das ferramentas que trazia na bolsa Flammer inicia a quebra pelas beiradas da entrada para facilitar o acesso. Nycolas preocupado o chamava perguntado o que havia ocorrido, mas ansioso em saber qual seria a quantidade de pérolas encontrada interiormente, Flammer continuava com sua escavação.

Uma pequena ferramenta de ponta, semelhante à uma picadeira, possibilitou a largura. Finalmente o salão pôde ser visto, o aventureiro olha em direção ao altar interior com as mãos apoiadas nas beiradas. A galeria era vislumbrante, os espeleotemas moldados pela ação substancial da água decoravam o grande altar localizado ao lado esquerdo. A matéria-prima era um artifício produzido pela tribo habitante da região. Alguns cristais, provenientes de substâncias minerais, produziam brilhos nas rochas. Nas câmaras dos fundos, muitas estalagmites de forma arredondada cresciam a partir do plano. Flammer permanecia impressionado ao estar novamente no salão das pérolas. Os conjuntos de escorrimentos cobriam as paredes e formavam cascatas de pedras cinzentas de calcário.

Uma estátua feita de calcário permanecia intacta sobre o altar. As vertigens de lodo confirmavam a tese de que as águas ainda inundavam aquele local, algumas marcas na parede eram prova disto. A estátua era um modelo indiano, representava um elefante utópico, de forma homogênea, olhos fechados, tromba ereta que passava pelo abdome humano. A forma corporal se assemelhava à um homem gordo com os joelhos dobrados e mãos estendidas aos lados. As pérolas geralmente ficavam espalhadas em sua borda ou sobre suas mãos.

 

Entrando por completo, havia uma inundação rasa, cerca de quarenta centímetros do degrau de um metro entre a entrada e o plano do salão. Uma pequena corrente de água surgia da entrada interior feita por um túnel maior e oposto ao buraco do atalho. Já no centro do salão, uma inesperada surpresa o ataca, seus nervos pareciam neutralizados, sua pulsação aumentava a cada passo que se aproximava do altar. Nycolas queixava a demora, Flammer realiza o último passo e alcança a distância mais próxima do artifício, por fim, seus olhos se dilatam. O imprevisto estava lançado, a estátua possuía as mãos vazias e a quantidade das pérolas vistas de relance, não passaria dos dez quilos pretendidos. Eram insuficientes para a dupla.

Flammer se apavora, agora ele tem à sua frente a saída da chantagem estabelecida por Sebastian Pig, a quantia era quase exata do valor necessário para quitar sua dívida, pouco mais de vinte e quatro horas faltava para o pagamento de uma antiga mercadoria e a última solução para que uma de suas mercadorias não fosse saqueada estava à sua frente. As lembranças do acordo com seu negociante o tonteavam e se misturavam com a ajuda empregada por Nycolas. Os artifícios produzidos pela tribo, eram vistos de todos os lados, uma das pérolas é pega, uma breve observação é feita.

_Flammer! - um eco de voz surgiu pela saída.

Em certo momento a possibilidade de captação de pérolas em outras áreas foi descartada em comparação ao tempo de entrega.

Flammer pretendia encontrar grandes quantidades de pérolas, mas foi contrariado quando a porção se reduziu à uma quantidade medíocre.

_Não é possível! - indagou olhando para o relógio.

Nycolas torna a chamar, a pérola é dispensada, Flammer reanima e se apressa pelo lado de fora, mas estava inquieto, um mau pressentimento o acometia. Por outro lado, havia a parte prometida à seu companheiro Nycolas, um sócio, presente em suas negociações e nas missões secretas do clube. Sua escolha, segundo a sua dívida, não poderia ser outra, Flammer sai da lapa com ar ofegante, aproxima-se da beirada e com cuidado observa o lado de baixo por onde Nycolas já se destravava das estacas na parede se preparando para a subida.  Cansado de tanto esperar e por causa das águas que transbordavam aos poucos, Nycolas atingia os primeiros passos. Distraído ao subir, ainda não tinha percebido Flammer que o observava de cima indeciso.

 

 

A DUPLA SE SEPARA

 

 

Ao olhar novamente para cima Nycolas se assusta ao ver Flammer, sua expressão era estranha, sua face franzida, seu temperamento mudou de uma hora para outra. Segurava em suas mãos a pequena ferramenta semelhante à uma picadeira. Os braços se erguem, Flammer parecia exausto, estava irreconhecível e prestes a acertar a corda que sustentava Nycolas.

_Não é o bastante para nós dois. - disse Flammer determinado e constrangido ao mesmo tempo.

_O que? – Nycolas parecia não entender.

_Atravesse o rio nadando e durma com os peixes. – prosseguiu em tom pejorativo antes de abandonar seu companheiro.

Um eco de vóz grave foi emitido, Nycolas arregalou seus olhos, Flammer parecia possesso. Um rápido impacto da lâmina no apoio das cordas fez lançá-lo na correnteza, sua voz surge antecipada, nada pôde impedi-lo. Em frações de segundos Nycolas foi lançado sobre a correnteza, não pôde se safar e inevitavelmente foi conduzido pelas águas.

A idéia de que seria possível encontrar mais pérolas no mesmo lugar, estava certa, mas seu receio quanto as pérolas era razoável. Talvez a quantidade no interior da gruta ainda fosse insuficiente para a conclusão de suas negociações.

Uma pequena porção de pérolas e algumas conchas se espalhavam pela superfície da água. A correnteza vinda pela entrada interna já estava sendo jorrada pelo corredor, as águas eram mais intensas. Desde a explosão até agora não paravam de encher, cada vez mais o salão era inundado.

Agora, havia uma medida de noventa centímetros do degrau, ou seja, dez centímetros faltavam para que a água começasse a escorre pelo lado exterior. O aventureiro entra, as pedras espalhadas na superfície foram sendo colhidas à medida que Flammer se aproximava do altar, local onde havia maior quantidade de pérolas. As águas atingiam a metade de sua perna, o altar é alcançado e as pérolas do chão são colhidas aos poucos. Muitas peças nos fundos eram quase invisíveis por causa das águas e enquanto procurava pelos cantos, o volume da inundação aumentava. Ainda pela parte de baixo do altar, Flammer tentava colher as peças do chão, as águas atingiam sua cintura, uma pequena parte já estava sendo despejada para fora com as pequenas ondas que se formavam no local do atalho, mas ainda o total das pérolas não era bastante.

A bolsa sobre o altar estava seca, suas mãos preenchidas depositavam as pérolas. Após captar uma boa quantia, os vestígios nos fundos terminam e as pérolas se esgotam. Flammer se apóia para subir ao altar e faz uma estimativa suspendendo a bolsa. O total ainda lhe parecia insuficiente, porém, não havia outra quantidade de pérolas no salão, senão, encaixadas na parede do altar.

O enfeite das pérolas na parede dos fundos, fazia uma linha fundida de ponta à ponta, no centro entre o solo do altar até a ponta cabeça.

Não havia alternativa, aquelas pérolas seriam ideais para preencher o restante da bolsa. As águas jorravam mais intensas pela saída quase impedindo a passagem. Se optando pelo trabalho de conseguir as pérolas escavando-as, o tempo da inundação seria maior impedindo a saída pelo atalho, mas lembrando de como escapou da última vez pelo teto, Flammer decide permanecer e captá-las. Sua intenção seria sair pelo topo com a inundação que seria formada em breve no salão. As águas tornavam mais agressivas, muitas ondas se agitavam e em pouco tempo criava-se uma poça em cima do altar, cobrindo o buraco do atalho e fazendo jorrar um grande ímpeto de água pelo lado de fora.

Com agilidade Flammer foi escavando as pérolas, as águas já atingiam os pés, o tempo passa e as pérolas foram logo preenchendo a bolsa. Enquanto colhia, pouco próximo do centro da linha, Flammer repara no peito da grande estátua uma concha diferente de todas as demais que estavam dentro da galeria. Aquela concha era uma espécie de bivalve, aparentava ser de alta valiosidade.

Para a tribo a concha era considerado o bivalve mestre, seu tamanho era de cinco ponto três centímetros por três de largura, uma concha simetricamente arquitetada pela natureza, formada por duas peças acopladas e seguida de uma capa intermediária de calcita.

Flammer permanecia imóvel, por algum momento parou com a atividade, como tivesse hipnotizado, admirava a pequena peça. A concha estava fixa na estátua, mas não por completo, bastava um pequeno impulso com as mãos para se soltar. Então Flammer, fascinado com a peça, sem muita dificuldade consegue arrancá-la. Em seguida, a coloca no bolso e retorna às pérolas na linha fundida. Em certo momento, quase próximo de terminar a linha, com as águas correndo em maior nível, a inundação alcança seu abdome, mas não suficiente para impedi-lo de manejar a picadeira.

Aquele objeto era de grande importância para a tribo. O bivalve mestre no peito da estátua era uma analogia a colheita. Para muitos, um amuleto maldito. Enquanto estivesse fixo sobre a estátua seria um bom sinal, indicava que uma grande seiva produziria fartura, mas quando solta pelo impacto das águas, a cada período de cheia, indicava que a força da tribo se tornou fraca e todos seriam assombrados e a seiva seria escassa, até que a mesma concha fosse encontrada para ser aniquilada. Dependendo do grau de fraqueza da tribo o bivalve mestre poderia demorar ou não a ser encontrado, e por fim destruído. Assim se cessaria a influência do bivalve fazendo com que a seiva tornasse a produzir fartura ou para que o violador fosse curado. E nenhuma outra espécie poderia substituí-lo, senão outro bivalve mestre.

 Devagar a inundação encobria a moldura e rapidamente evoluía, impedindo Flammer de cavar além daquilo. A ferramenta naquele nível não seria mais prestativa, as águas amorteciam o impacto e faltava pouco para finalizar-se a linha. Havia uma única fileira de pérolas ao redor da pintura. Para retirá-las seria quase impossível. De sorte, algumas batidas com uma outra ferramenta pontiaguda foram dadas abrindo pequenos espaçamentos ao redor delas. Introduzindo a picadeira na cintura e com as próprias mãos, Flammer tentava tirá-las, algumas estavam quase soltas. A água chega ao pescoço, isto o obrigaria a fazer mergulhos, breve a inundação o cobriu por completo.

Agora cada mergulho seria fundamental ao tirar as pérolas. Após muita insistência, algumas foram sendo liberadas. As águas atingiam cinco metros, cobrindo o altar e a estátua, ficando cada vez mais tensas. O último mergulho é feito. Finalmente as pérolas acabam e a quantidade conquistada parecia ser o bastante. Quando à seis metros, quase saindo pelo topo, as águas formavam um pequeno redemoinho, Flammer sofria mais dificuldade. Se apoiando em alguma cavidade, permanecia à espera da inundação até transbordar ao topo, faltavam menos que dois metros.

Àquela altura as águas corriam mais lentas, uma transformação inesperada das águas fez acalentá-las para um nível menos tenso. A espera até o topo passa a ser mais demorada em comparação ao início. Isto aconteceu devido a força impetuosa das águas que ao saírem abundantes e contínuas pelo atalho, conseguiu romper uma grande parte da borda do buraco.

Do lado de fora as águas caiam como uma cascata, a largura do buraco foi duplicada. Algumas pedras que se soltaram da explosão e do impacto aumentaram o nível das águas que formavam uma correnteza em direção ao interior da mata. O caminho criou um grande riacho sem rumo.

  

A TRIBO

  

Por outro lado Nycolas consegue se salvar da correnteza à nado, chegando as margens do rio. Sem muita resistência desmaia ao sair. Por ali permaneceu algumas horas se recuperando do cansaço, não sabia por que traiçoeiramente Flammer o lançou no rio. De sorte, o mapa estava em suas mãos. Para retornar ao local, teria que andar alguns quilômetros. A correnteza era forte e o conduziu para longe. Antes de se recuperar totalmente, a temível tribo aparece, falavam um dialeto diferente e usavam armas, anularam todas as chances de fuga para Nycolas. Sem muita força e com os olhos acanhados, Nycolas observava aqueles nativos armados. Não conseguia entendê-los e foi impedido de se explicar sobre a comunicação com o rádio-transmissor. Nycolas se rende cercado pela mira dos arpões e de algumas espingardas.  Alguns deles o detêm para aprisioná-lo amarrando as cordas de cipó sobre as mãos. Em seguida, o aparelho é desativado e o seu equipamento que restou após a queda na correnteza é apreendido.

Nycolas foi levado ao povoado cativo para servir como escravo. O povoado era longe em um local escondido pela floresta. Ao redor havia imensos flamboyants, cedros, coqueiros e ciprestes. Existia um grande espaço onde havia uma fogueira para ser acesa à noite e alguns membros tribais com objetos instrumentais para rituais da tribo. Do outro lado algumas mulheres que faziam serviços caseiros como comida e limpeza permaneciam atentas ao seus afazeres.

Tinham também homens artesões, crianças e alguns anciões. As casas eram feitas de madeira amarradas pelo cipó, cobertas de folhas longas e palhas.

Existia uma grande copa de arbustos entre as casas, e no meio, um espaço em círculo onde estava a fogueira, exatamente no centro. As cabanas, porém, eram bem alojadas ao redor de grandes troncos de árvores. Algumas no limiar de uma grande rocha, geralmente serviam para se protegerem da chuva, mas o principal objetivo das plantas artesanais era camuflar a tribo, impedindo de serem avistados facilmente do alto.

Ao chegar à tribo, muitos se espantaram ao ver o estrangeiro, o líder ordena para que ninguém o tocasse. Ele foi levado à uma cabana cúbica com teto angular feita de madeira natural amarradas por cipós. O cubículo era um local onde ficavam alguns servos, muitos aparentavam traços semelhantes, segundo o costume da tribo. Outros se caracterizavam com roupas diferentes, talvez estivessem ali para cumprir algum tipo de pena ou serviços voluntários. Entre estes havia alguns de pele clara e traços orientais, uns quatro ou cinco, também usavam roupas diferentes. Não havia diferença no modo de tratamento, todos eram restritos dos demais como Nycolas que também foi aprisionado no local.

Na aldeia, todos executam diferentes tarefas, já era quase noite e muitos preparavam para conduzir a safra aos depósitos. O primeiro dia de trabalho para os servos aprisionados era como sempre muito forçado e incompreensível.

Algumas roupas fajutas foram dadas à Nycolas para servir com os demais servos na colheita de um pequeno pasto próximo ao acampamento, que logo ao chegar, começou com sua tarefa naquele campo repleto de plantações. Por coincidência o serviço iniciava por aquelas horas em que Nycolas chegara, era um serviço forçado aos prisioneiros com duração de uma hora. Os trabalhadores eram vigiados por outras pessoas que também protegiam a área de animais ou estranhos. Uma pessoa entre os que trabalhavam, conseguia compreender a língua inglesa de Nycolas e era um dos poucos que podia interpretá-lo.

_Qual é o seu nome? – perguntou o homem com um sotaque diferente e uma voz grosseira. Nycolas surpreso se anima ao saber que ele falava inglês e diz:

_Então você entende minha língua? – sentiu-se aliviado ao ouvir aquela pergunta.

_Perguntei qual é o seu nome? – repetiu novamente com o rosto frio e conduzindo a ferramenta para alinhar a colheita.

_Nycolas Tolledo, sou estrangeiro, atuo em Bangladesh como traficante, fui feito escravo pela tribo ao me perder da grande rocha pelo interior da ilha, estava acompanhado de grupo e me separei acidentalmente.

_Eu sou Kihuri, a pouco tempo estou trabalhando para a tribo em troca de moradia. Sou indiano e era o comandante do barco que naufragou com estas quatro pessoas que te interpelam. Não os entenderão porque são de Kuala Lumpur da Malásia, foram os sobreviventes da embarcação de quarenta e seis pessoas do grande tsunâme no bósforo de Bengala, o mesmo que desterrou parte das ilhas na costa asiática. Íamos até o país, partindo com uma embarcação de mercadorias têxteis, mas ocorreu o acidente e fomos salvos por esta pequena ilha. – ele se cala por um momento ressentido e depois o pergunta:

_E como veio parar aqui?

_Eu vim a procura de minerais valiosos, encontramos pérolas, mas sofri um pequeno acidente no rio e fiquei perdido sem meus equipamentos de comunicação que foram tomados pela tribo.

_Por esta região de fato existe muitas pérolas, mas para a tribo é um material muito sagrado, do qual não podemos tocar.

Nycolas interrompe o assunto interessado em saber sobre as outras pessoas do grupo e pergunta:

_Além dos servos, quem são estes outros?

_Estes são os servos que cumprem as penas, outros que fazem trabalho espontâneo, mas também existe outro velho homem que habita a ilha desde sua juventude. Chegou aqui quando navegava seu pequeno barco em busca de aventuras, se adaptou a tribo e também interpreta a língua.

_E os prisioneiros, já tentaram fugir?

_Já houve tentativas, mas fomos perseguidos e capturados. A ilha além do mais é muito extensa e aparentemente inexplorada. Não podemos sair sem a permissão do chefe. Podemos atrair a atenção dos agentes. Escutamos algumas vezes barulhos de helicópteros do outro lado, mas as árvores inibem a visibilidade da plantação onde trabalhamos.

_Embora a tribo tenha pegado os meus equipamentos, contudo me restou este simples mapa que poderá ser útil para nossa fuga.

Nycolas retira do bolso um pequeno mapa pouco rasurado por causa das águas da correnteza, porém, perceptível.

Ele ressalta:

_Enquanto andava da margem do rio até chegar aqui acompanhado da tribo, pude decorar o caminho. Se fugirmos alcançando o rio certamente chegaremos a salvo até o campo. - mostrou-lhe a rota que exibia a trilha até o campo de pouso - Nesta área encontraremos dois helicópteros, dos quais eu vim à ilha...

Um dos que vigiavam, homem alto, pele parda, usava uma espingarda sobre o peito, observando a conversa dos servos interrompe e chama a atenção de Kihuri. Em particular, bravejando pela língua nativa e dando fortes empurrões ao servo, que voltou à vigilância. O comandante se adaptou ao dialeto que era mais semelhante a fala indiana. O servo retornando, explica:

_Não podemos nos acomodar durante o serviço, os vigias são severos. Agora vá, e colha alguns cipós para amarramos a safra.

 

UM ATO ERÓICO

  

Era pôr-do-sol, horário em que os servos se preparavam para carregar as safras enroladas nos cipós aos depósitos do acampamento. Nycolas, que havia sido forçado ao trabalho, presencia um pequeno acidente enquanto todos trabalhavam. Uma pequena criança que andava por aquela parte foi pega por uma forte correnteza formada à alguns metros distantes do local do trabalho.

A correnteza havia se formado a partir de outros desvios das águas que saíam da explosão. A mesma rocha corrompida pela cascata originou um percurso pelo interior da mata, conduzindo as águas para perto da seiva. Nycolas trabalhava um pouco abaixo do local do acidente. Estando mais próximo da beira da correnteza e sendo um dos mais fortes dos trabalhadores, se dispôs a salvá-la. A criança foi resgata por um ardiloso mergulho de Nycolas, que não teve muita dificuldade em se sustentar das águas que, apesar da correnteza, eram ainda rasas e atingiam os seus joelhos.

A criança é tomada no colo e entregue aos seus pais, sendo assim, muito honrado pela tribo que se felicitava com o salvamento. Em troca do gesto heróico, a tribo ofereceu a liberdade em troca, mas Nycolas preferiu ficar até o outro dia. Faltava muito pouco para a noite, a mata apresentava riscos e alguns dos companheiros insistiam para que o estrangeiro permanecesse até quando a cheia acabasse.

O chefe, em fim, permitiu e Nycolas permaneceria durante o festejo da tribo. A noite logo chega, haveria um ritual em comemorações à passagem da lua-cheia, era um costume típico da tribo. Tal interprete sempre o ajudava nas comunicações, facilitando sua conversação com os nativos. Como causa do ocorrido o chefe permitiu que aquela noite todos fossem liberados para tomarem uma bebida forte feita, do sumo da cana. A alimentação seria da caça de peixes. Geralmente os servos não comiam dos peixes e comiam do porco silvestre.

 Antes de se arrumarem, Nycolas lembrando do seu parceiro que ficou na gruta perguntou ao outro estrangeiro:

_Existe, então, muitas pérolas nesta região? - o pergunta como quem desejava saber mais sobre o assunto.

Ele o diz:

 _Supostamente! Sempre nesta época a tribo costuma também colher as pérolas e as conchas no fundo de um lago escondido para oferecer aos deuses, mas isto sempre ocorre quando acaba a cheia do rio, porque as águas deste lago diminuem e por isto a visibilidade das pérolas no fundo do lago se torna melhor, a maior parte ficam na sua profundeza, e o lago se decanta por completo.

De fato Kihuri não sabia de como sempre eles encontravam abundantes pérolas no fundo do lago, até que soube o mistério através do outro velho estrangeiro que vivia ali desde sua juventude:

_Existe um mistério da tribo. – disse o ancião - Estas pérolas são muito sagradas, na verdade são oferecidas aos deuses no interior de uma rocha onde no alto tem uma saída.

_Assim quando chega o período de cheia, as águas submergem até o topo da gruta e devolvem as pérolas que foram lá deixadas tornando para o mesmo destino no lago secreto. O local é um lago distante de onde são captadas as pérolas, é um dos pontos finais formado pelo rio.

_A correnteza leva as pérolas exatamente à este lago. – acrescentou Kihuri

Nycolas se interessou pelo que soube, a rocha se tratava do mesmo lugar onde estava anteriormente. De fato aquelas pérolas na gruta pertenciam a tribo e desejava saber sobre onde era o local do lago. Kihuri continua:

_Segundo o costume, estas pérolas são infectadas pelos males da tribo e depois oferecidas aos deuses. Quando a correnteza devolve é sinal de limpeza e purificação.

Em seguida Kihuri toma um gole da bebida e continua:

_O lago secreto não deve estar muito distante daqui. – revelou.

   

SEM SAÍDA

 

Enquanto isso, no interior da gruta, Flammer já permanecia seco no altar, sobre uma longa poça de água e sob a iluminação da lua.

Momentos antes, ainda pela tarde, Flammer esperava pela submersão das águas até o teto. Do lado exterior as águas saiam com uma força brutal. Algumas pedras na borda do atalho já haviam sido arrancadas pela força da cascata e uma coluna em baixo não resistiu, foi desalojada, ampliando assim, o buraco feito por onde as águas vazavam. De repente as águas pararam, quase perto do buraco de saída no topo, à uma certa altura, Flammer se estranhou e esperava por algum sinal. A inundação permanecia estagnada.    

Após alguns minutos, o nível começava a baixar, Flammer assustado entendeu que houve alguma falha no buraco externo. Aliviado, esperou até que as águas descessem para poder sair pelo próprio atalho. Porém quando o nível chegou à três metros, novamente elas andaram devagar, isto acontecia por que as águas que viam pelos corredores ainda não haviam cessado e o rompimento talvez ainda não teria sido bastante para liquidar toda água interna. A estrutura da estátua reaparecia e em pouco tempo os seus pés atingiram o altar.

Naquele momento as águas se acalmaram, novamente pararam e retardaram a diminuir. Não sabendo até quando elas permaneceriam naquele nível, Flammer somente desejava que elas diminuíssem, para que o altar fosse livre das águas que o submergia a trinta centímetros cobrindo-lhe os pés.

 Por outro lado, o restante do grupo esperava preocupado, o rádio-comunicador várias vezes acionado não conseguia sinal com a dupla. Flammer havia perdido o aparelho com a inundação e Nycolas perdeu o sinal após ser desativado antes da apreensão dos tribais. O grupo não possuía o mapa, a ordem era permanecer no local até a chegada da dupla. Era quase noite e Ryah tenta os últimos contatos na cabine de um dos helicópteros. Não havendo retorno, comenta:

_A transmissão definitivamente não consegue sinal de retorno. - disse apreensivo ao sair da cabine - Vamos, ligue o motor, - pediu à Elijah - faremos um contorno em busca dos dois, devem estar perdidos.

_Não temos o mapa! - comentou Rajid – A ordem seria permanecer até voltarem.

Enquanto isso, Jhason e o restante se preparavam com as armações para finalizarem a barraca. As lonas eram movidas em longa distância.

_Já está noite e nenhum sinal. – andou sozinho para ligar o motor – Temos riscos, não devemos nos acomodar. – o observou de modo crítico.

_O que é desta vez. – disse Jhason que erguia a grande lona ao sustentar seu cigarro sobre a boca e observando a discussão a deixa de lado.

_Elijah deve reconhecer o caminho. A rocha não está mais do que dois mil metros. – disse Ryah ao acessar o helicóptero dando partida no motor.

_Vamos chamar atenção, aguarde Ryah!

_Não se preocupem.

A procura foi feita, mas a ausência do mapa dificultou a localização da rocha. A mata congruente e forrada pelas árvores, às vezes confundia o reconhecimento do piloto. Por algum momento estiveram pairados próximo ao local com a lanterna do helicóptero ligada, mas o monte certo não foi reconhecido, Elijah envia o sinal:

_Não consigo reconhecer o local. - informou ao segundo rádio.

Muitos contornos foram feitos em torno da área, nenhum registro foi identificado. A busca se tornou perigosa e a presença do mapa era primordial. Em pouco tempo o grupo retorna ao campo de pouso sem notícias da dupla.

Ao ouvir o barulho do helicóptero no interior da gruta, Flammer chamava por socorro, mas era impossibilitado de ser ouvido. Durante aquele período da tarde as águas permaneceram no mesmo nível. A correnteza fluía contínua, mas já estavam secas sobre o altar. Com a chegada da noite, as águas finalmente diminuíram por menos trinta centímetros. Aliviado, Flammer conseguiu espaço seco sobre o altar para poder descansar até que tudo terminasse.

 

O LAGO SECRETO

 

Na noite enquanto estavam dentro da cabana aguardavam até que fossem chamados para a refeição, alguns dos náufragos tentavam conversar com ele sem muito compreendê-lo. Nycolas pergunta ao interprete o motivo da cheia do rio, o comandante explica que periodicamente acontece a cheia sempre quando em lua-cheia. Coincidentemente o grupo havia ido nos dias de cheia o que explica o fato da enchente que ocorria dentro da galeria. O velho ainda ressalta que esta cheia seria passageira e que após três dias ela cessaria.

_Esta cheia atualmente iniciou ontem. – explicava o estrangeiro.

_Isto significava que no próximo dia pela manhã as águas tornarão ao normal.

 Neste momento certo tribal com pinturas no rosto e trajes típico da ocasião, fala a língua nativa e avisa os servos chamando-los para a refeição da noite. Do lado de fora eles eram muito vigiados, pouco próximo da fogueira tinham mesas de madeira e bancos rústicos.

A mesa dos servos era separada dos outros demais. Talvez aquele momento não seria oportuno para dialogarem sobre a fuga e Nycolas somente aguardava o próximo dia para poderem planejar. Muitos aguardavam pelo ritual, aquela noite se inicia em grande festejo. Havia comidas e sons de tambores e outros instrumentos musicais, a maioria se envolviam em danças. Enquanto todos se distraíam, discretamente Kihuri pergunta:

_Talvez seja esta a ocasião para podermos fugir?

_Não tão depressa! Tenho outro plano. Como fui liberto pela gratificação da tribo, pedi permissão para permanecer até amanhã. Os náufragos fogem enquanto as pessoas estiverem distraídas, eu lhes darei o mapa, além disso, elaborei uma trilha até o rio onde fui pego. Criei um atalho enquanto preparávamos para o ritual. Por este caminho chegarão à salvo no campo onde há dois helicópteros com alguns de meus ajudantes. Se escondem por lá e eu chegarei ao amanhecer. Porei alguns disfarces na cama aproveitando a embriagues dos tribais para confundi-los. Certamente sairão a sua procura, mas não poderão me culpar e o seu grupo estará seguro. - Kihuri concorda e logo reúne seu grupo para fugir.

Os cinco estrangeiros tomam o mapa, esperavam até o momento oportuno. Ficaram observando até quando todos estivessem dispersos com a celebração do rito. Tomaram como pretexto do clima frio alguns mantos compridos para se aquecerem, mas isto para quando estivessem escondidos na mata durante a vigília da noite. Rapidamente eles fogem e seguem em direção ao campo de pouso acompanhando a trilha do mapa. Em seguida Nycolas sai discretamente rumo à cabana, lá dentro, criava alguns sacos com montes de terra e colocava sobre a cama de cada um deles. O disfarce seria útil para que o restante que entrasse não os percebesse. Após armar os sacos, Nycolas deita em seu lugar.

 

No final do festejo, muitos tornam aos seus aposentos. Na cabana dos servos um dos vigias que fazia a conferência dos servos da tribo foi acompanhar os prisioneiros, porém a ausência dos fugitivos não foi percebida, tampouco os que iam chegando conseguiram percebê-los, apenas Nycolas, que fingia dormir, restou dos estrangeiros.

Na manhã seguinte eles são chamados para o trabalho. Nycolas já do lado de fora aguardava por algum momento até aquecer-se do tempo. Estava frio e ainda havia muita neblina. Um dos vigias se estranha ao conferir os servos no interior da cabana. Após chamá-los sem ser correspondido, o vigia se aproxima das camas. Era a segunda vez que o vigia insistia, mas ninguém o respondia, devagar descobriu a primeira coberta e se espantou ao notar os sacos de terras, seus olhos se dilatam, ainda faltavam alguns dos servos.

Ao sair da cabana, o vigia comunica o chefe, a notícia se espalha, a ordem foi dada e os caçadores se reúnem para que a busca pelos fugitivos fosse feita. O grupo rapidamente se prepara para encontrá-los. As espingardas e os arpões eram manejados. Outro velho estrangeiro que permaneceu no acampamento durante a fuga, fazia a tradução das palavras do chefe. Nycolas era interpelado e dizia que não havia os vistos durante a manhã e que fugiram provavelmente durante a noite.

 Após algum tempo os tribais que foram procurá-los retornam sem resultados. Nycolas se sente aliviado em seu íntimo, o plano foi bem sucedido, certamente encontraram a saída, pensou consigo mesmo. Logo após as buscas, Nycolas é liberado como prometido pelo chefe. Tornando a possuir os seus pertences que foram apreendidos pela tribo, se despede do grupo agradecido. Ele se envolve na mata, ainda não seria o momento oportuno para retornar ao campo de pouso onde estavam acampados os seus ajudantes.

Sua localidade é avisada pelo rádio. O grupo responde e questionam sobre a demora. Ryah informa que já havia sido feito as buscas para encontrá-los. As primeiras informações foram bloqueadas pela desativação dos raios. O motorista não poderia insistir com as buscas devido a atenção de supostos agentes. Para não levantarem suspeitas, cessaram as buscas de acordo com o pedido de Elijah.

A comunicação é feita, Nycolas permaneceria no local, se fosse preciso. Retornaria mais cedo, talvez, fugindo com os outros quando a tribo se distraía durante a noite. “Eventualmente esta manhã será o dia da colheita, o terceiro dia após a cheia”, supôs Nycolas. A intenção era segui-los de longe para saber onde seria o local exato do lago que Kiuri havia comentado.

A tribo se preparava para fazer a colheita das pérolas no lago seco. Os equipamentos eram separados. De longe Nycolas tinha melhor facilidade para espiá-los. Aquele dia era o terceiro após a cheia do rio. As águas das margens tendiam a diminuir e pela manhã já estavam secas. O grupo se preparava como se estivessem para sair à um novo ritual, de fato, aquele seria o momento oportuno para espiá-los.

As pérolas era o principal motivo de toda aquela euforia, Nycolas não tinha dúvidas de que estavam se preparando para irem ao lago seco. Sem causar suspeitas à tribo pelo barulho das pegadas na mata, Nycolas usava seu binóculo recuperado de seus equipamentos e acompanhava cada movimento do grupo rumo ao interior de uma pequena mata ao longe.

Eles seguiam em bandos com objetos apropriados da colheita tais como peneiras, cestas e redes para a captação das pérolas. O caminho era longo e muito afastado do alojamento da tribo. Muitas árvores cercavam a tribo durante o trajeto, do alto da colina Nycolas os acompanhavam atento. Chegando na região ele se admira com a imensa quantidade de pérolas e conchas na profundeza do lago que misteriosamente havia diminuído por completo após a enchente.

Como previsto, aquela manhã realmente era o momento em que o rio diminuía, e aquela região era o local certo para a captação das pérolas. O bastante para encher sua única bolsa, o bastante para recompensar sua viajem à ilha após a separação com Flammer, era necessário apenas esperá-los sair.

Muitos traziam sacos para a colheita das pérolas, com certeza tudo não seria suficiente para encher todos os sacos. Algumas provavelmente restariam sobre algumas partes, Nycolas não se preocupou quanto ao tempo, esperou até que tudo terminasse. Quando todos os tribais vão embora com os sacos de pérolas, Nycolas desce rapidamente chegando à margem do lago, realmente ainda havia algumas pérolas entre as conchas na beira do lago.

Nada obstante, Nycolas começa a captar as pérolas conseguindo encher a sua bolsa de aproximadamente dez quilos, satisfeito ele toma seu caminho de volta. Com seu aparelho de comunicação, ativa sinal até o rádio-transmissor onde estavam acampados os ajudantes do Clube Barony na vigia dos helicópteros com os fugitivos que realizaram a fuga na noite passada.

O prazo previsto por Sebastian Big foi limitado à quatro dias, porém àquela altura já se passara quase três dias. Nycolas dizia tudo o que ocorrera a respeito de sua aventura na tribo e que agora precisava ativar o radar para reencontrá-los. Além disso, Ryah o informa sobre a perca de sinal com Flammer, que havia perdido o aparelho de comunicação na gruta durante a enchente, impossibilitando os sinais de contatos. Dependia apenas que a cheia acabasse para poder sair da gruta.

_Consegui encontrar novas porções de pérolas. Preciso de orientação para alcançar os helicópteros.

_E Flammer?

_Quanto a Flammer... não façam as buscas do resgate até o nosso encontro.

Durante todo o dia anterior permaneceu em cima do altar no interior da rocha com as águas correntes, que diminuíram alguns centímetros à baixo da borda do altar possibilitando seus pés e oferecendo condição de espaço para deitar-se durante a noite.

A DISPUTA

 Com o radar ativado Nycolas consegue o caminho de volta. Enquanto isso, do outro lado da praia, Flammer acorda quando o sol por cima do topo refletia sobre seu corpo. Já era dia e as águas cessaram. Sua bolsa com as pérolas estava fixa nas costas e o caminho de volta por ele já era reconhecido, não se necessitando do seu aparelho transmissor perdido durante o redemoinho na gruta. Ao sair pelo atalho, Flammer escala de volta em direção à mata, algumas trilhas poderiam ser facilmente percorridas. Do outro lado, Nycolas também segue as orientações do grupo para encontrar o campo. Ambos praticamente andavam em um mesmo tempo, cada um deles conseguiram o que desejavam. Em coincidência medida, Nycolas consegue sua parte, mesmo sendo traído por Flammer, encontrou cerca de dez quilos de pérolas.

A quantidade das pérolas conquistadas pela dupla era semelhante no tocante ao peso. Os dez quilos que preenchiam as bolsas de ambos tornaram-se o principal desafio da aventura. Por um lado, Flammer necessitava pagar sua conta à Sebastian Pig com aquela porção. Dez quilos de pérolas foi a quantia exigida pelo sócio, nenhum quilo além do peso poderia ser aceito e os mesmos dez quilos poderiam ser comprados por Sebastian Pig em dinheiro à vista, caso Flammer preferisse não comprar. A exceção da compra quanto as pérolas, abria uma oportunidade à Nycolas, que com dez quilos de pérolas poderia vendê-las ao negociador.

Por outro lado, Flammer necessitava liquidar seu débito, o tempo estava se esgotando e Flammer andava apressadamente pela mata. Uma disputa, portanto, estava lançada, dez quilos de pérolas, ora, estava em jogo, e o mérito da negociação pertenceria ao primeiro que chegasse à tempo no escritório de Sebastian Pig, que pagaria o dinheiro à vista, caso Nycolas chegasse primeiro ou quitaria o débitos, caso Flammer fosse mais ágil.

Sabendo que a quantia conquistada poderia ser vendida com facilidade à Sebastian Pig, Nycolas descartou a hipótese de que Flammer tivesse a prioridade ao quitar sua dívida e recuperar sua mercadoria apreendida. O ato desleal criou uma divergência entre a dupla, e a fúria de Nycolas se agravava em cada passo dado em direção ao campo de pouso. As plantas que interditavam o caminho eram atingidas com agressividade. O sinal do radar indicava a posição do helicóptero.

Por outro lado da mata, Flammer seguia a trilha acerca de mil e oitocentos metros, ao sair pelo atalho da rocha. Encontrou maiores obstruções no caminho e tornou a ser superado por Nycolas que chegava aos mil e seiscentos metros. Cada passo era importante na chegada ao campo de pouso, desde aquele momento o impacto das pérolas havia impressionado a dupla. A fria passagem da noite na gruta e os grandes riscos enfrentados na tribo inibiram os aventureiros quase em mesmo período. As adversidades se dissolviam com a ambição da fortuna despertada na separação da dupla e com o prazo estabelecido para o pagamento da conta. A corrida parecia a mesma.

Após algumas horas os dois chegam até o local onde estavam os helicópteros. Quase ao mesmo tempo eles alcançam o campo, porém um vinha de um lado e outro ao contrário. Nycolas à uma longa distância apressava-se para alcançar o seu primeiro piloto que o aguardava dentro do veículo após ser avisado pelo rádio. De longe Nycolas avistava os cinco fugitivos da tribo que acenavam com as mãos no acampamento onde estava Ryah, o piloto. Estes haviam encontrado o caminho da trilha de acordo com o mapa, enquanto Flammer corria mais rápido a fim de alcançar o segundo helicóptero R66 cor vermelho-sintético primeiro que Nycolas que também se esforçava para partir evitando qualquer acidente.

Antes que ambos chegassem aos helicópteros surge da mata alguns guardas armados da reserva florestal. Os agentes foram informados sobre a invasão do grupo. De longe e mirando com as armas, ordenavam para que parassem. A dupla insistia em correr, os cinco fugitivos da tribo, Ryah e os demais se rendem aos guardas, não tiveram chances de correrem do pequeno acampamento onde estavam em direção aos helicópteros, mesmo porque, estavam distantes dos dois helicópteros. Alguns disparos de tiros à uma longa distância foram feitos contra a dupla, atingindo o braço de Flammer. Como Nycolas já havia adquirido boa parte das pérolas não se preocupava em impedi-lo, apenas planejava seu vôo antecipado comunicando pelo rádio enquanto corria pela mata. O pedido era para que Said, seu piloto, o aguardasse na cabine do helicóptero em secreto sem comunicar aos outros. Isto talvez facilitasse o vôo para sua chegada ao embarque.

Todavia poderia ter sido sem muita pressa, se não fosse Flammer que teria o abandonado na cobiça de possuir todas as pérolas. A cabana com uma extensa lona de couro verde-musgo, lugar onde os fugitivos da tribo e o grupo de vigias dos helicópteros haviam se alojado, tornou-se o cenário do conflito. O grupo estava mais próximo do local onde surgiram os guardas armados. A posição dos traficantes no local do acampamento, embora impedisse que o grupo reagisse ao ataque dos agentes, havia possibilitado tempo e permitido que os outros que corriam vindo da mata, alcançasse os helicópteros sem serem atingidos fatalmente. Entre os exploradores estava Elijah, totalmente mobilizado, não teve chances, se rendeu logo em seguida ao lado de seu companheiro Rajid. Jhason, permaneceu no acampamento e não havia sido informado sobre a vinda da dupla pela mata.

Eles conseguem entrar na cabine, alguns tiros disparados pelos guardas não puderam detê-los, Flammer sai primeiro partindo vôo sem seu piloto, os guardas insistem em atirar, a lateral do helicóptero é atingida, Flammer saca sua arma no interior da cabina e retruca os primeiros disparos. Nycolas em seguida parte com o seu helicóptero R44 branco-fosco, seu piloto Said estava no comando e teve melhor flexibilidade ao mirar sua arma contra os guardas. Alguns disparos contra os agentes atingiram a perna de um dos quais corria para impedi-lo.

Os helicópteros iniciam a partida. Em pouco tempo os pilotos tomam distância se livrando dos agentes. A dupla já estava fora de alcance. A disputa agora seria a chegada do primeiro negociador e aquele que tivesse melhor agilidade teria a sua parte negociada. De um lado Nycolas com seu piloto, do outro Flammer que foi ferido por uma bala de raspão no antebraço.

Durante o vôo muitas tentativas foram feitas, a fim de que um impedisse ao outro. Da cabine de onde partia Flammer mais adiante, surge um inesperado sinal pelo rádio direcionado do veículo à frente:

_Porque tanta pressa Nycolas Tolledo, as pérolas que estão comigo são insuficientes para nós dois. - um bip finalizava a comunicação emitindo um tom de voz chiado.

_Não hesite Flammer, talvez sua decisão em abandonar-me na missão, por encontrar menos que os dez quilos de pérolas para o pagamento da dívida, tenha lhe dado maior confiança. Saiba que consegui a mesma porção da sua parte, certamente me encontrarei com Sebastian Pig em primeiro lugar e não o darei chances de você negociar. - a voz chiada do rádio comunicador agora atravessava para os fones de Flammer.

_Não me deixe te encontrar no aeroporto, senão, te liquidarei.

_Para que tão longe companheiro, basta olhar para trás, estou bem próximo. – Flammer olha para o lado e Nycolas dispara alguns tiros na lateral.

 Flammer faz o retorno para proteger a combustão e revidar os disparos. Alguns tiros de sua pistola semi-automática acertam a porta do piloto de Nycolas deixando-a defeituosa. Com um forte chute a porta pôde ser arremessada aos ares. Nycolas atira no helicóptero sem acertar a cabine, Flammer novamente revida e atira contra o piloto que sem a proteção da porta é ferido no abdômen. Nycolas, que estava atrás, até aquele momento tinha a vantagem do piloto, mas sendo atingido, perdeu sua coordenação. Imediatamente, Nycolas toma a direção enquanto o piloto se acomodava nos bancos traseiros. Movimentos bruscos fizeram com que o veículo perdesse a direção.

A porta dianteira, completamente aberta, deixava o piloto frágil contra os disparos, que o atingiria com facilidade. Nycolas teria menor vantagem ao enfrentar Flammer e, estando à frente, permitiu que seu oponente o ultrapassasse. Aguardaria pela chegada ao aeroporto para poder retomar a posição. Flammer acena com o dedo do meio, vituperando o seu companheiro. A disputa até o momento parecia acirrada, o piloto como vítima, tentava se recuperar e Flammer ganhava distância sabendo que mais cedo ou mais tarde ambos se reencontrariam no aeroporto.

Em bases de pouso diferentes, os concorrentes chegam até a cidade de Jakarta. Flammer aterrissou primeiro em um prédio comum da região, o hotel Ibis Kemayoran Jakarta, em cujo andar havia uma base para helicópteros, o pouso na verdade era ilegal, a propriedade pertencia a outros donos.

Tendo enfrentando alguns problemas com os proprietários, não poderia ir em direção ao mesmo prédio do ponto inicial, o Crowne Plazza, onde fizeram o acordo de aluguel com alguns locatários. O ponto, embora fosse o ponto concordado para a partida, ainda seria arriscado ao se deparar com Nycolas, que por consequência do reencontro, poderia ser impedido. Antes que a polícia fosse acionada Flammer oferece pérolas para satisfazê-los do pouso. Além de conseguir acessar o hotel Ibis Kemayoran Jakarta, Flammer tem a oportunidade de tomar um rápido banho para curar-se da ferida no conflito com os agentes da ilha e se aprontar para a compra da passagem no aeroporto.

O segundo helicóptero pousa em seguida no prédio em cuja base estavam os proprietários locatários, eles comentam sobre o outro helicóptero. Nycolas disfarça e dizia estar tudo bem e que em breve o outro veículo retornaria. Tendo quantidades superiores de pérolas, ofereceu ao locatário pelo estrago da porta além da hospedagem do piloto Said, que após a assistência médica se recuperaria da ferida no abdome.

Nycolas segue rumo em direção ao Aeroporto Internacional de Seychelles, chegando primeiro que Flammer. Negocia sua passagem em uma das agências aviárias. Não havendo outro ingresso em todas as agências, senão, para às três horas. Esperaria até a partida do vôo. Sua chegada tornou-se inútil, o tempo do embarque daria oportunidades ao seu recém rival, que a qualquer momento o reencontraria.

Em seguida Flammer surge com a aparência mais agradável, vestindo um fino paletó francês preto, óculos escuros e uma blusa de seda cinza que trazia em sua mala-giratória ao lado, logo, negocia sua passagem. Antes da saída, ambos entregam as bagagens ao aviador Domini que foi contratado para embarcar com as pérolas e com as armas em um tipo de jato clandestino. Domini havia recebido as bolsas lacradas com as pérolas em momentos diferentes da dupla, enquanto esperava em um hangar em Jakarta não conseguiu entender o que estava acontecendo. A ordem era devolvê-las no seu hangar em Dacka, junto com as pérolas e as armas contidas nos helicópteros. Em Dacka, os dois retornariam em breve. Nycolas se recorda da última interceptação dos agentes no aeroporto devido o material das cordas transportadoras para helicóptero, no momento em que passavam se escondeu atrás de um jornal.

No aeroporto Nycolas aproveita as horas restantes para poder tomar um banho em um hotel interno exclusivo do aeroporto. Havia poupado tempo enquanto recomendava ajuda médica ao seu piloto. Apesar do uso de sua roupa social modificada ainda no hotel Crowne Plazza, seu corpo ainda guardava vestígios da ilha. A tentativa de embarcar em primeira instância pela linha Airlines, foi fracassada pela ausência de ingressos. O tempo passa, a dupla se prepara para a partida. Após se aprontar, mudando seu traje precário para um estilo mais elegante, Nycolas decide esperar pelo embarque no restaurante do piso superior. Do primeiro plano, andou até a portaria central de acesso ao segundo andar do moderno pátio do aeroporto, sentia-se inseguro.      Subindo pelo elevador, olhava para os lados tentando identificar sinais do seu adversário. No corredor superior, um pequeno binóculo é retirado da mala, Nycolas faz uma breve visualização sobre a transação dos viajantes, de súbito, algo o surpreende.

O visor seguia lento em direção às cabines de ingressos quando Nycolas consegue localizar seu adversário andando passivo rumo à uma determinada agência aviária. Flammer se posiciona em frente à uma cabine para efetuar a compra. Nycolas o acompanha despreocupado, a agência, pelo contrário, era diferente da sua. Assim só lhe preocupava o horário, que certamente não seria diferente do seu embarque. Está pegando outra linha, indagou Nycolas ao guardar o binóculo. Contudo não havia ingressos naquele local de vendas de embarque senão para as três horas, portanto, somente a agilidade ao conseguir sua bolsa antecipada em Dacka, o faria negociador das pérolas. Nycolas termina de espioná-lo e segue andando pelo interior do pátio.

Flammer não comprou a passagem naquele local como imaginou Nycolas, e andando mais à frente algo parecia mudar o destino de Flammer, pois as frotas se esgotaram obrigando-o a mudar de agência, mas nada sabia que agência disponível era da mesma linha de Nycolas.

Após Nycolas virar em direção à portaria do restaurante, Flammer por coincidência, segue em direção à mesma agência aviária por onde o ingresso de Nycolas foi comprado. Um novo desafio estava lançado, pontualmente a dupla se reencontraria, mas desta vez, no interior do mesmo avião. Sem perceber o transtorno, Nycolas acessa o restaurante, mal sabia que em breve estaria se reencontrando com Flammer. Esteve preocupado, pensou em retornar para identificá-lo, mas se conteve, não desperdiçaria tempo ao espiá-lo.

Permanecendo algum tempo no restaurante interno aguardaria até a hora da partida. Do mesmo modo procedia seu adversário em um restaurante no pátio principal no primeiro piso. Sempre inflexível, lia um jornal mesurado, não sabia a localização de Nycolas.


NO AEROPORTO

  

A hora finalmente foi dada, o avião em breve estaria alçando vôo pelos ares, ambos se direcionam para o mesmo coletor de passagem. Sem que um percebesse o outro, ambos acessam o avião. Primeiro Nycolas, que de costas do corredor de passagem, ajustava uma pequena pasta com alguns documentos no maleiro. Flammer entra, e passa ao seu lado rumo aos últimos bancos, os dois se suspeitavam e permaneciam ansiosos. Durante a viagem Nycolas entra em contato com seu rival para saber sobre seu paradeiro, mas nada sabia que ambos estavam a bordo no mesmo avião:

O telefone toca, Flammer atende:

_Conseguiu passagens para às três?

_Não encontrei outro horário disponível. – respondeu Flammer.

_Sorte sua, se não fosse por isto, talvez eu teria embarcado primeiro. – disse Nycolas.

_Parece que chegaremos ao aeroporto juntos? – perguntou Flammer.

_Estou sobrevoando parte do litoral indiano.

Flammer olha de relance pela janela:

_Não estou longe.

_Ainda não consigo compreender porque abandonou o plano por causa de dez fajutos quilos de limão?

_O quê? – estranhou o termo – Disse limão?

Nycolas confunde as palavras quando uma agente de bordo passava para oferecer refresco de limão.

 

_Não confundam as coisas, estamos negociando pérolas e você desaparece da ilha por limão?

_Não seja insolente. – disse ao tomar o copo sobre a bandeja da agente de bordo - Sei que Sebastian Pig se interessa pela compra da mesma quantidade de pérolas oferecida pelo pagamento de sua conta. Talvez se isto tivesse sido evitado, eu faria negócios à outros comerciantes. Mas em tempo imediato conquistarei o dinheiro proposto.

_Mas que tolice de outras pérolas é esta, está ameaçando em vão, não me impedirá, ainda que haja...

Logo a frente a agente passa ao lado de Flammer e o pergunta:

_Refresco de limão?

_Limão? – se espantou.

_Sem ofensas Flammer, não sai em busca de limão, sabe muito bem que a ilha possui grande indicio de pérolas pelas áreas internas...

A voz de Nycolas saia sozinha pelo fone de ouvido. Os olhos de Flammer paralisam, movendo a mão em sinal de recusa dispensa a oferta. Tudo era prova de que seu rival estava a bordo. O telefone é desligado, seu rosto se move lento em direção à janela. Flammer se levanta para ir ao banheiro dos fundos. Na volta Nycolas é identificado ainda de longe pelos bancos à frente.

_Não pode ser. – indagou – Posso perder um grande negócio.

Em seguida uma ligação é feita ao seu pessoal, ordenando ao grupo para que no horário aproximado de sua chegada, todos o aguardassem no desembarque.

A ordem era para que estivessem atentos e armados para enfrentar um eventual ataque de seu adversário que obviamente tomaria a mesma decisão por precaução.

Nycolas por outro lado, coincidentemente realiza uma ligação. Um de seus motoristas é selecionado para aguardá-lo com um jipe particular na rua central pela saída do aeroporto. Sebastian Pig estava à espera dos negociadores em seu píer em Bangladesh na cidade de Dacka. Faltavam poucas horas, os ponteiros andavam devagar, e a dupla estava à caminho do pouso. Com a ideia do jipe, Nycolas teria mais flexibilidade durante o trânsito chegando em melhor tempo ao grande píer na represa do milionário Sebastian Pig, que os aguardava como combinado.

No Aeroporto de Dhaka em Bangladesh o avião pousa, os passageiros realizam o desembarque. Flammer, como previsto, também havia ordenado à um de seus assistentes para recebê-lo no desembarque. Bernard, um de seus assistentes, recebe a ordem e seria o piloto do carro levando outros três membros do grupo que atuava em Bangladesh.

Os grupos se preparam, um novo impacto entre os traficantes estava para acontecer. Ao desembarcar, Flammer segue em direção ao estacionamento após identificar seu grupo. Seus assistentes esperavam armados ao lado de um dos carros do clube. As pistolas não identificadas no acesso ao estacionamento se ajustavam aos coldres de cada cintura e pelo peito escondido das vestes.

 

Flammer ao perceber Nycolas distraído saca uma das armas portadas por Bernard tomando-a pelo coldre e ao vê-lo desembarcar pela escada com os outros passageiros, e sem perdê-lo de vista, ergue lentamente a arma e mira sobre seu peito.

Ainda sem perceber Nycolas reencontra seu motorista posicionado próximo à saída seguindo em direção aos seus auxiliares, de sorte que de suas costas conseguiram ver Flammer prestes a disparar os primeiro tiros. O chefe do grupo é surpreendido ao ser empurrado inesperadamente por seu motorista. Dois tiros foram disparados, o ocorrido salva Nycolas de um atentado devasso de seu adversário acerca de vinte metros de distância. Os outros dois se protegem tendo a lateral do carro como defesa. Os disparos foram revidados dando cobertura a Nycolas, que entra no carro em seguida. Sem ferimentos o grupo acessa o carro conversível preto que estava estacionado perto da linha de saída à rua principal. Como planejado, Nycolas desce na mesma rua de saída do aeroporto poucos metros à frente, onde estava o jipe solicitado.

_Siga ao hangar de Domini. - ordena a ida ao galpão secreto de seu sócio Domini, onde os aguardava com o jato.

As pérolas estavam em um dos jatos estacionados naquele hangar, Domini Gallas aguardava pela dupla após ser avisado por telefone. Flammer não perde tempo, já tinha seus planos pré-definido, com seu grupo também segue rumo ao mesmo hangar onde estariam as bolsas com as pérolas.

 O local estava à alguns quilômetros do aeroporto, pouco tempo conduziria a dupla novamente ao mesmo destino. Era quase noite, o dia ainda estava claro e o trânsito mais caótico. Contudo, pela via de acesso ao hangar de Domini a dupla teria menos congestionamento, possibilitando uma chegada quase simultânea dos carros.

No galpão a dupla parece chegar em tempos iguais, ambos corriam passos decrescentes vindo de lados contrários. Os passos se reduziam à medida que as pistolas eram sacadas dos coldres, e à medida que se aproximavam de Domini. As bolsas foram postas separadas, Nycolas do lado esquerdo se aproxima com sua arma engatilhada, do lado direito Flammer, também andava às pressas e o ameaçava erguendo sua arma. Ambos andam até se aproximarem um do outro frente à frente em um metro de distância. O jato estava com suas portas abertas, as bolsas foram postas separadas, Domini estava ao lado da porta e em frente ao encontro das armas.  Permanecia neutro com o choque entre os adversários.

_Vamos com calma meus amigos! – arredou os pés à um passo atrás, Domini estava entre as duas armas engatilhadas, uma voltada ao outro.

Antes de pegar a bolsa, Nycolas debate:

_Porque a trapaça meu caro? – perguntou indignado com a arma apontada.

_Eu não tive escolhas, a quantidade era insuficiente para nós dois, deverá me compreender! – o respondeu também com a arma apontada em contra-posição.

_Mas quase me tornei escravo da tribo por sua culpa, por sorte, consegui escapar à tempo e encontrei outro lugar onde havia mais quantidades de pérolas, por isso agora tenho essa bolsa ao meu lado.

_Espero apenas que tenha bons negócios Nycolas Tolledo – o parabenizou com o olhar um pouco irônico.

_Claro que terei, quando breve encontrar com Sebastian Pig, um dos poucos negociantes em toda redondeza que dispõe dinheiro à vista em troca de todo este peso de dez quilos. Além do mais, o comércio de pérolas tornou-se escasso?

_Nem se atreva.

_É impressão minha ou Sebastian Pig determinou um limite de dez quilos para a troca das pérolas? – o perguntou se estranhando como quem acabava de se lembrar do acordo. - Ou talvez, pelo pagamento à vista? – acrescentou.

_É o que aproximadamente trouxe nesta bagagem.

_Sinto muito, mas não lhe darei prioridade de venda! – disse Nycolas tomando a sua bolsa com as pérolas.

Nycolas reage, rapidamente corre em direção ao portão por onde entrou. Flammer se antecipa e também pega sua bolsa seguindo ao estacionamento de seu carro. O plano seria ir à um estacionamento de lanchas em um dos quiosques rente a represa principal da cidade pelo lado oeste, onde uma lancha particular e moderna seria usada para a disputa da chegada ao píer de Sebastian Pig. O quiosque estava localizado à poucos metros antes do caminho de ida. Por outro lado Nycolas se reencontra com o motorista do jipe que o esperava próximo a saída do galpão. A pequena bolsa vinha ao seu lado, o jipe acelera em estilo audacioso causando ruídos na pista e Nycolas ganha distância.

  

A MEDALHA DE PRATA

 

 No trânsito, o motorista de Nycolas perde mais tempo, teve menor vantagem em comparação à Flammer que competia nas águas da represa em sua imponente lancha. A aceleração conseguiu compensar o tempo perdido ao chegar no quiosque. Flammer tardando em dirigir sua lancha localizada em alguns metros afastados do galpão, sabia que o tempo da lancha nas águas seria superior ao jipe e uma ultrapassagem poderia acontecer em breve.

Na costa da represa uma avenida larga, em cujo trânsito havia pouco movimento de carros, facilitou o aumento da velocidade de Nycolas que rapidamente alcançou Flammer fazendo menor quilometragem. Mesmo sabendo que podia ultrapassá-lo naquela condição, Nycolas reduz a velocidade para se comunicar com Flammer. Com seu celular ele o provoca:

_Deseje que seja tempo de cheia também aqui em Bangladesh meu caro! Porque se for seca, não terá a mínima chance de estacionar a sua lancha.

_Também o aconselho a desejar para que eles tenham feito algum tipo de viaduto a seguir, porque daqui a cinco quilômetros você se deparará com uma grande rotatória e o obrigará a desviar alguns quarteirões! – sorriu de modo sarcástico.

Como previsto Nycolas teve que desviar seu caminho virando à direita, e tomando caminho interno. Ele derrapa na curva para não perder a velocidade. Sobre dois ou três carros na pista posterior ocorrem algumas colisões, mas nada que o impedisse. Flammer à essa altura já o teria alcançado. Nycolas aumenta a velocidade e toma um atalho. Ao chegar na portaria do clube é autorizado a entrar com seu jipe, rapidamente invade as areias até chegar ao galpão principal. Haviam muitas lanchas no estacionamento do píer e algumas outras pessoas das quais não poderiam ser identificadas. Flammer, provavelmente já teria chegado, Nycolas cria uma mera suposição por não haver nenhuma outra lancha vindo em sua direção ou outra similar ao modelo usado na costa.

No seu escritório em um dos galpões do píer, Sebanstian Pig, com seu estilo asqueroso, usava um grande palitó cinza, uma blusa clara, grandes correntes de ouro sobre o pescoço e pulseiras cintilantes, além de um relógio gold. Aguardava os negociadores enquanto fumava um raro charuto chinês. Havia recebido algumas ligações antecipadamente sobre a chegada do material negociado. Só não sabia que ocorria uma disputa entre os dois desde a Indonésia para saber qual chegaria primeiro para concluir a negociação.

O negociante estava prestes a evacuar o local combinado, restringindo completamente a entrada, a saída de veículos e pessoas comerciantes. Já era quase pôr-do-sol e os traficantes não tinham chagado. De repente um dos seus assistentes o comunica sobre a chegada de um dos negociantes. Sebastian Pig permite sua entrada e à um outro dos seus ajudantes pede que interdite imediatamente toda a entrada e toda a saída para iniciar o tráfico relâmpago, que também seria realizado com outros negociantes vindos de muitos distritos de Bangladesh naquela mesma noite.

 Da porta, ele surgia com seus óculos e terno escuros. Blusa clara bege, um colete de seda fina preto e uma pequena pasta onde colocara as pérolas para efetuar a troca. O negociador se assenta após cumprimentar. O comprador com olhar sombrio e afano inquire o material e logo a pasta é aberta seguido pelo destrave dos botões. Os olhos de Sebastian Pig reluziram-se ao ver toda aquela preciosidade, mas pede para que um de seus analistas encomendados averiguasse a qualidade do material.

Com uma lupa cinco por quatro de sete ponto três graus o examinador começa a analisar os primeiros detalhes. Uma pequena maquina para testes conclui a afirmação de originalidade dada pelo negociador e uma balança de precisão calcula nove ponto oitocentos e quarenta quilos. Então Sebastian Pig toma o dinheiro correspondente, um alto valor em dinheiro vivo. O entrega também em uma pasta, e ninguém poderia ser o vencedor da disputa senão... Nycolas Tolledo, que satisfatoriamente se retira da sala o despedindo com um aperto de mão.

Do lado de fora Flammer tentou entrar, mas foi impedido pelos auxiliares de Sebastian Pig, que o segurava pelos braços. Ao vê-lo sair pelas portas do escritório, deduziu então que Nycolas já teria chegado antes, esperou até encontrar-se com ele na saída. Ao avistá-lo, se sentia derrotado, mas se aproxima e diz:

_Muito bem Nycolas, acabo de perder uma mercadoria milionária penhorada. – disse um pouco arrependido após a derrota.

_Parece que isto não foi suficiente para Sebastian Pig – assustado olhou Flammer que tentou correr alguns passos, mas era tarde de mais, os capangas tinham levado a lancha sob a ordem do chefe à um outro estacionamento, até o termino das negociações.

Na represa havia uma longa ponte que cortava o rio para o cruzamento de carros para o lado oeste onde seguiria Flammer após a negociação. De tal modo que se localizava pouco antes do píer onde estavam as lanchas. Por esta razão Flammer o pergunta:

_Agora, após a negociação, qual será seu caminho de carro?

_Bom, eu farei o contorno ao lado oeste, para comemorar com Clarice, alguns ajudantes e amigos. Esta noite estarei em um bom restaurante da cidade.

_Espero conseguir uma carona para o outro lado. Sebastian Pig deve ter ordenado o fechamento do clube, não conseguirei minha lancha...

Ele olha para o carro e direciona com a mão ao seu companheiro que o ajudou na disputa pela chegada, ele responde com o som da busina.

_Como você pode ver não há lugares neste jipe de cabine única. – ainda chateado com o que ocorrera na ilha ele continua:

_Não é o bastante para nós dois - se referindo ao espaço do jipe.

_Atravesse o rio nadando e durma com os peixes. – retrucou lembrando das palavras que Flammer o dissera antes de abandoná-lo.

      Com o jipe Nycolas sai pelas areias levantando poeira à procura da saída prioritária para carros, deixando Flammer sem a mínima chance de sair do clube até Sebastian Pig fechar seus negócios.

      Flammer perde sua carga apreendida, sem mais outra opção, segue destino de volta pra casa, onde esteve pensando por todo aquele final de noite. Após uma longa observação da cidade pela visão no escritórios, Flammer pega o celular e liga pra Bernard.

      _Flammer! – atendeu Bernard.

      _Mudanças de plano meu caro...

      _E qual seria o plano desta vez?

      _Desafio em Dacka!

 

 

FIM

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