segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Gambit&Morlocks

Episódio 2 – Remy Lebeau




Após a retirada de todos os enfermeiros que auxiliavam a operação, permaneceu-se somente o doutor Stanberg, o médico responsável. Inquieto tentava diagnosticar a origem dos vestígios que surgiram misteriosamente. Uma injeção foi aplicada para análise das primeiras amostras. Provavelmente aquela estranha substância estivesse ocupado a região óssea. Depois da coleta do sangue não foi descoberto senão o aumento da hemoglobina devido a dilatação do endotélio. O exame de raio-x revelava uma placa mais consistente e escura em torno do anti-braço direito.

O médico fazia a comparação pela iluminação de uma arandela em seu escritório. O primeiro exame é mantido em um arquivo secreto. Mais tarde o médico teve a resposta para sua indagação, uma segunda amostra foi feita por um exame de sangue detalhado, o nitrogênio é identificado, nada parecia definido. Um só composto químico seria responsável por este fenômeno, o óxido nítrico, é um dos principais causadores da dilatação do endotélio que aumenta o fluxo sanguíneo e que contém o nitrogênio em sua composição.

Para descobrir a origem dos vestígios seria necessário saber a composição química do óxido nítrico. Alguns estudos foram realizados, soube-se que as altas temperaturas ambientais, o nitrogênio molecular e o oxigênio são capazes de sintetizar-se para formar o óxido nítrico. Porém a maior produção natural é produzida pelo relâmpago. Stanberg chegou à uma dedução sensata, descobriu que pelo relâmpago ao atingir alguns dos equipamentos, inclusive a incubadora, originou-se o óxido nítrico no soro injetado na criança. A pergunta sobre como este composto poderia ter interagido com o soro líquido era constante, o médico manteve o caso em sigilo, exceto, convidou um físico para dizer algumas evidências sobre o ocorrido.

Com a visita do físico as dúvidas foram esclarecidas, soube-se então que não era seguro o método utilizado para sondagem do soro. O líquido era mantido em um depósito metálico ao invés dos tradicionais plásticos descartáveis, embora fosse muito útil para economizar, neste caso foi o principal culpado pela difusão do óxido nítrico com o soro. Por ser um bom condutor de eletricidade, o metal conseguiu guiar a energia oxidada do relâmpago ao depósito metálico. O físico disse sobre o fenômeno que produz o óxido nítrico, disse-lhe:

_Enquanto os choques das partículas dentro da nuvem em uma chuva se intensificam, a quantidade de carga em sua superfície aumenta e, conseqüentemente, o campo elétrico criado por essas cargas também se eleva. Com o aumento da intensidade desse campo, as moléculas de ar entre as partes eletrizadas sofrem polarização e se orientam de acordo com o campo elétrico. O efeito de polarização se intensifica com o aumento da intensidade do campo até o ponto em que elétrons são arrancados das moléculas do ar tornando-se propensos à atrações elétricas. O campo magnético, dessa forma ionizado, se transforma em um condutor gasoso. Este campo tem certo limite de alcance à terra, porém, com o óxido nítrico ionizado, foi possível os raios elétricos atingirem alguns equipamentos em longa distância formando um caminho chamado de canal condutor.

_Genericamente, - continuou - o valor de campo elétrico que provoca ionização em um meio é denominado rigidez dielétrica desse meio. A respeito da rigidez dielétrica no ar, - disse-lhe o físico ao mostrar um exemplar entre seus documentos - ela varia com as condições da atmosfera. Isto é, quando o campo elétrico ultrapassa esse valor limite, diz-se que houve uma quebra da rigidez dielétrica do meio. Isso transforma um íon isolante em um condutor. Este fenômeno além de ter sido o responsável pela formação do canal condutor que conduziu o relâmpago até atingirem os equipamentos, foi também o responsável pela formação do óxido nítrico presente na atmosfera. Na verdade doutor, - acrescentou o físico - os relâmpagos apenas são capazes de eletrizar objetos bons condutores colocados em seu campo elétrico, como evidentemente aconteceu com o metal da incubadora.

Ambos se despediram, mas ainda algo parecia incompleto para o médico. O caso foi explicado à uma das enfermeiras. Depois de algumas comparações com o demonstrativo do físico, o médico conseguiu chegar a uma conclusão sensata, ou seja, a difusão do óxido nítrico ocorreu pela oxidação que é a perca de elétrons da substância do soro pela influencia do raio, como a polarização das moléculas no campo elétrico.

_Estes são os exames de raio-x. – exibiu.

_Estranho. – suspeitou a enfermeira - calcificação?

_Não. Uma oxidação polarizada. Uma eletricidade altamente oxidada atingiu os equipamentos da incubadora até fundir-se ao soro. O óxido nítrico na forma de gás foi responsável pela fusão. A substancia infiltrou posteriormente pelos vasos sanguíneos até ser absorvida pelos ossos.

Em comparação ao raio-x do braço esquerdo, havia uma camada iônica difundida com os ossos, desde as mãos e em todo o ante-braço.

_A explicação desta absorção está na reação orgânica. – sugeriu a enfermeira - Um organismo de um recém-nascido necessita de cálcio na corrente sanguínea devido o mau funcionamento da circulação, porém irá repor a falta retirando o cálcio dos ossos, a interferência do soro e o fenômeno de oxidação ocasionou a ligação entre a substância e os ossos. A grande presença de magnésio nos ossos sintetizou-se com o óxido, formando então esta camada iônica.

Após algumas horas de análise a enfermeira se aproximava com alguns detalhes das pesquisas feitas em torno daquele fenômeno:

_Segundo as amostras, a ligação iônica das moléculas ocasionou maior influência de prótons no organismo. Mas se não fosse a sua alta solubilidade, jamais poderia atuar nas células sanguíneas e tampouco nas veias nervosas. Por ser um gás muito solúvel nos músculos, conseguiu absorção do corpo e mais tarde se difundiu com os ossos. Um conector permitiu que os íons passassem diretamente do citoplasma de uma célula para o de outra. – mostrou a imagem da célula - Neste caso ocorreu uma ligação elétrica, a passagem do impulso nervoso nessa região é feita por substâncias químicas neurotransmissores. Assim também por ser um gás neurotransmissor nas células nervosas, o óxido conseguiu absorção até atingir o nervo ótico afetando acidentalmente a retina. – mostrou o relatório do exame que constava a presença da substância em torno da córnea óptica.

_Com a retina afetada ocorreu-se uma polimerização, eliminando o pigmento castanho negro, chamado eumelanina. Além disso, a radiação ionizante causada pelo óxido, obrigou o licopeno, que tem por função de impedir a oxidação das substâncias químicas que ocorrem nas reações metabólicas, de atuar na reparação das células nervosas da retina, assim predominou-se a cor vermelho na íris do olho por reposição metabólica.

_Isto é uma aberração! – assustou ao observar o recém-nascido que permanecia imóvel sobre a incubadora com os olhos vendados.

_Esta substância realmente possui funções específicas, foi responsável por estas reações.

_Além disso, seu sistema nervoso foi modificado geneticamente, seu braço iônico contém elementos puramente positivos o que acarreta na atração de energias elétricas negativas provenientes da própria terra. E assim como a formação do canal condutor na atmosfera, seu corpo também se torna um bom condutor de energia. Isto possibilita a capacidade de absorver energia elétrica em voltagens talvez incalculáveis, concentrando especificamente em seu braço direito.

Estas reações foram melhor explicadas após a abertura dos olhos da criança, a enfermeira acompanhou o doutor Stanberg em todo o tratamento. O fato assustou à muitos, a notícia não se expandiu e foi mantida em sigilo pelo grupo. A criança foi abandonada após três meses de parto. A mãe de origem francesa não conseguia aceitar o fato de que seus olhos haviam sido afetados, jamais foi encontrada novamente, muitos acreditavam que ela tentou suicídio, mas a razão mais aceitável foi a migração para o sul do país, em Nova Orleans, onde habitavam os seus prováveis descendentes migrantes da França. A criança foi mantida em um internato de crianças órfãs após o tratamento de um ano sob a custódia do hospital. Recebeu o nome de Remy que após cinco anos finalmente foi adotado por Jane LeBeau.

A mãe adotiva se aproximava do local onde receberia o pequeno Remy acompanhada de uma das assistentes da instituição. Usava um traje fino, estava ansiosa, havia recebido a notícia da adoção. Jeane LeBeau realmente se interessava pelo órfão.

_Por aqui. – encaminhou a assistente.

Um salão possuía suas paredes brancas e neutras, algumas crianças exerciam algum tipo de especialidade mental. Usavam uniformes brancos e específicos e trabalhavam com objetos de ajuda psíquica. Remy ainda de costas tentava equilibra a última carta de baralho sobre uma coluna de castelo de cartas. A assistente se aproxima:

_Remy. – chamou.

As cartas no mesmo instante se desmontam, Remy atendeu ao chamado virando-se lentamente em direção à voz levando consigo uma das cartas do baralho. Seus olhos estranhos e oblíquos encaravam a pessoa desconhecida que estava presente ao lado da assistente. Permaneceu em silêncio por algum instante, mantinha uma aparência rude.

_Esta é sua nova mãe.

Uma lagrima corria sobre sua face, Jane estava um pouco espantada devido a mutação dos olhos. Seu sorriso ao mesmo tempo demonstrava alegria junto ao sentimento lamentável em ter que se despedir daquele garoto que entre muitos, apresentava traços extremamente especiais.

_Um novo lar o espera. – continuou.

Remy preferiu manter imóvel e em silêncio, não se manifestou, era o início de uma inesquecível jornada do mais recente membro da família LeBeau.



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